Em entrevista à TSF, António Ventura, historiador e autor do livro "Chefes de Governo Maçons - Portugal (1835-2016)", afirma que os maçons nunca condicionaram a política portuguesa.
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A inspiração para o livro "Chefes de Governo Maçons - Portugal (1835-2016)" que aborda o tema dos chefes de Governo portugueses ligados à maçonaria surgiu de um outro livro, semelhante, na vizinha Espanha. E, com o trabalho feito em Portugal, António Ventura chegou a uma conclusão.
"Comparando com a situação espanhola, em Portugal houve muito mais chefes de Governo que foram maçons", diz, em entrevista à TSF, a propósito do livro lançado há pouco mais de um mês, e ainda à boleia congresso do Grande Oriente Lusitano - a maior e mais influente obediência maçónica portuguesa -, que se realiza este fim de semana.
Uma realidade constatada através da investigação, mas que, para o historiador - e maçom assumido -, nada diz sobre o grau de influência da maçonaria nos destinos do país. António Ventura recua até primeiros anos do século passado para dar um exemplo que considera "revelador",
"Quando falamos em influência, falamos em condicionar. Isso nunca existiu. Basta vermos a Primeira República onde, com parlamentos com mais de 50 por cento de maçons, isso não teve qualquer reflexo no que era aprovado", sublinha.
E recupera outro exemplo, de 1911: "Quando se elegeu o Primeiro presidente da República, numa assembleia com mais de metade de maçons, o Grão-Mestre [da maçonaria] teve um voto".
Segundo António Ventura, na história do país, não faltam dados que indiquem que a influência dos maçons nos caminhos da política nunca foi determinante.
"Basta olharmos para toda a História de Portugal e assistimos a constantes lutas políticas entre os partidos e entre as personalidades. Ora, se a maçonaria condicionasse e determinasse, essas lutas não teriam acontecido. Teria havido uma unanimidade e uma obediência cega às ordens emanadas da maçonaria, e tal não aconteceu", reforça.
A "pluralidade" a limitar a influência
Para o professor de História na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, a parca influência prende-se também com uma certa pluralidade dentro das organizações maçónicas, existindo, dentro da maçonaria, políticos "das mais diversas orientações", existindo membros "mais à esquerda e mais à direita".
Um cenário "plural" que, defende António Ventura, "impossibilita qualquer tipo de manipulação".
Convicções e conclusões deste historiador, depois de dezenas de trabalhos ligados ao tema, e após um livro no qual fica claro que os casos mais recentes de chefes de Governo ligados à maçonaria são escassos. António Ventura dá dois exemplos. Os únicos, sublinha, nas últimas quatro décadas.
Palma Carlos e Mário Soares, os dois únicos primeiros-ministros maçons desde 1974
"Só há dois casos depois do 25 de abril: Adelino da Palma Carlos e Mário Soares. De qualquer forma, são dois casos muito diferentes", esclarece.
Segundo o historiador, enquanto Palma Carlos, primeiro-ministro durante um curto espaço de tempo, em 1974, "foi iniciado antes da maçonaria, teve atividade maçónica na clandestinidade e desempenhou cargos importantes dentro da maçonaria", Mário Soares quase não teve atividade maçónica.
"Mário Soares teve uma atividade [maçónica] efémera, em França, somente em França. Ele foi iniciado, durante o exílio, na Grande Loja de França, e, em Portugal, nunca teve qualquer atividade maçónica".
Dois exemplos que, defende António Ventura, são o reflexo da pouca influência dos maçons na liderança da política portuguesa.