Uma Associação de Trás-os-Montes vai enviar livros para Trás-os-Montes... em Cabo Verde.
Corpo do artigo
É uma história que nasce do acaso. "Nasce do conhecimento mais aprofundado do Tarrafal na ilha de Santiago em Cabo Verde, município que nos convidou para participar numa conferência sobre turismo e desenvolvimento local. Foi nessa altura que nós conhecemos a região que no concelho do Tarrafal se chama Trás-os-Montes ou Trás di Monti, em crioulo."
As palavras são de António Martinho, presidente da Associação Douro Generation de Vila Real, que depois da surpresa quis conhecer mais daquele território e ficou a saber porque é que se chama Trás di Monti àquela região do Tarrafal. "Porque nos séculos XII e XVIII muitos transmontanos foram para aquela região ensinar a trabalhar a agricultura porque aquela região é tão inóspita, de solo tão pobre, tão difícil como o solo de Trás-os-Montes", afirma.
TSF\audio\2017\11\noticias\24\afonso_de_sousa_tras_di_monti_tras_os_montes
Como bons embaixadores da região portuguesa apressaram-se a batizá-la com o mesmo nome. Não se sabe se pela saudade dos encantos transmontanos se por uma questão de posse. Sabe-se é que não foi só esse o legado deixado no Tarrafal. "Naturalmente muitos ficaram lá, constituíram família e há muitos nomes de pessoas que são nomes comuns de transmontanos, como Cabral, Pereira e outros".
Na estadia o ex-governador civil de Vila Real e a comitiva portuguesa visitaram uma escola do primeiro ciclo na região trasmontana de Cabo Verde. Foi lá que imediatamente pensaram numa hipótese de cooperação entre as duas regiões com o mesmo nome.
"Pensámos que gostaríamos de enviar e Portugal para a escola do primeiro ciclo do Tarrafal um livro, um livro multiplicado por muitos transmontanos que gostarão de oferecer um livro àquela escola da região de Trás-os-Montes de Cabo Verde."
E essa ideia de cooperação ficou ainda mais cimentada quando souberam da existência naquele território de um centro de formação de barro. "O que contribuiu ainda mais para a nossa vontade de colaborar porque havia artes comuns. A arte do barro é uma arte comum, como a agricultura", assinala o presidente da Associação Douro Generation.
Já em Portugal António Martinho e a associação arranjaram vários parceiros para levar a campanha a bom termo. A Câmara de Vila Real, através do Grémio Literário e da biblioteca municipal, o centro escolar das árvores de Vila Real e da livraria Traga Mundos da cidade transmontana.
António Alves, dono da Traga Mundos, ficou admirado quando lhe disseram que em Cabo Verde havia uma região chamada Trás-os-Montes, mas não muito e explica porquê.
"Fiquei um bocadinho, mas depois não! Este ano fui visitar o Mindelo e falaram-me muito de outra ilha paradisíaca, ao lado que é Santo Antão. Disseram-me logo que foi povoada por Transmontanos. Não tinha andado muitos quilómetros quando olhei e fiquei incrédulo com o que vi: eram socalcos, iguais aos do Douro. É incrível a maneira como eles têm os socalcos para aproveitarem a pouca chuva que vem das montanhas, mas é um encanto."
E agarrou logo a ideia de enviar livros para a escola primária de Trás di Monti no Tarrafal. Até porque diz já haver uma relação de aproximação entre os povos e essa ponte torna-se mais fácil e produtiva.
Depois dos livros para o primeiro ciclo será importante levar e trazer autores de um e outro lado, acrescenta o dono da Traga Mundos, "para que se possam conhecer mais as culturas transmontanas de Cabo Verde e dos autores transmontanos de Portugal."
António Martinho, da Douro Generation, acredita também que depois de ver tanta coisa em comum entre as duas regiões, seja possível aprofundem relações nas mais diversas áreas, reafirmando que tudo há de começar com um livro."