É maior que muitos concelhos do país. É a sexta maior união de freguesias do país. Juntas têm 55 mil habitantes. Mas Senhora da Hora e São Mamede de Infesta querem regressar ao passado e ganhar novamente autonomia.
Corpo do artigo
Jorge Carvalho é um dos mentores da separação. Foi um dos que se sentou à mesa, no final da primavera do ano passado, num café: "Éramos três ou quatro amigos. Este é um movimento cívico espontâneo. Forçaram um casamento, agora queremos o divórcio". Acabar com a União da Senhora da Hora e São Mamede de Infesta é o que move dois grupos, um em cada freguesia. Joaquim Gomes da Silva, senhorense, diz que a mudança não trouxe ganhos.
"Não há nenhuma poupança económica. As despesas são as mesmas, os dois edifícios, sedes de junta, mantêm-se e os funcionários são os mesmos", atira.
Com o autarca perdeu-se proximidade, ganharam-se ausências. "Se vamos à Senhora da Hora, ele está em São Mamede. Se vamos a São Mamede, ele está na Senhora da Hora. Isso limita a possibilidade dos fregueses interagirem com o poder da sua freguesia".
TSF\audio\2020\01\noticias\24\sonia_santos_silva_uniao_de_freguesias
Em São Mamede de Infesta, Jorge Cardoso dinamiza a separação de freguesias. Para ele, a segurança é o elo mais fraco da União: "Como é que é possível com um policiamento em São Mamede, que na altura em que a PSP foi transferida para lá, já era relativamente pequeno, como é que agora consegue abranger e garantir a segurança dos cidadãos numa área muito maior?"
Porque a união foi feita com régua e esquadro, sem olhar a pessoas e especificidades, Jorge Cardoso deseja uma mudança.
"A nossa União de Freguesias é maior que 21 concelhos do nosso país. É a sexta maior união de freguesias do país. Temos aqui um universo de 55 mil habitantes. É humanamente impossível que um presidente consiga estar omnipresente em todas as situações. Para nós não faz sentido nenhum".
Os dois movimentos criaram uma petição, que já reuniu quatro mil assinaturas, para obrigar o governo a cumprir o que prometeu, e que foi reverter algumas uniões de freguesias. A tempo das autárquicas de 2021 seria o ideal, como sublinha Jorge Cardoso: "É agora ou nunca. Nós queremos que, nos primeiros seis meses de 2020, a questão esteja resolvida."
Leonardo Fernandes é o autarca que vai ouvindo e gerindo os fregueses. Divide a semana por dois gabinetes e vai à rua, quando pode, que é muito menos do que gostaria: "Eu passo a vida em atendimentos, porque a população é imensa e eu passo a vida a atender. Depois pedem proximidade com a população na rua. As pessoas queixam-se disso. Que não me vêm."
Em nome pessoal, Leonardo Fernandes diz que a separação seria uma decisão bem-vinda. Para o autarca, o que for decidido, será respeitado: "Se houver uma separação das freguesias, e se ficar São Mamede sozinha e a Senhora da Hora sozinha, vai ser o desejo de todos nós e cá estaremos".
Para o ano há eleições autárquicas. Todos gostariam de votar numa freguesia sem agregações. Se tal não for possível, não pensam num boicote eleitoral, mas pode haver partidos penalizados nas urnas.