"Unidade militar espanhola de combate aos incêndios está a anos-luz da nossa realidade"
Associação Nacional de Sargentos defende a formação e a existência de mais efetivos para dar resposta às populações em situações de catástrofe
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A ajudar no combate aos incêndios no centro e norte do país e a pedido do Governo português estão no terreno 248 militares da UME, uma unidade espanhola formada para dar resposta a catástrofes. Em Portugal, já existe uma equipa em Abrantes que dá resposta a situações idênticas, mas estará muito longe de ter a preparação dos militares espanhóis.
O presidente da Associação Nacional de Sargentos lembra que foi constituído o Regimento de Apoio Militar de Emergência (RAME) em Abrantes, cuja missão também será preparar os seus efetivos para o apoio às populações. "Não há muito tempo, foram chamados para apoio às cheias", lembra António Lima Coelho, recordando ainda que o Exército português, a Marinha e a Força Aérea têm dado muito apoio na prevenção, na vigilância, no rescaldo, no apoio logístico dos incêndios, mas "o combate é uma questão completamente distinta".
António Lima Coelho considera que o Ministério da Defesa devia avançar para a criação de uma unidade que desse efetiva resposta a catástrofes naturais, no entanto, o combate aos incêndios "tem de ser muito bem preparado por profissionais, por atores devidamente preparados e vocacionados para isso", adianta. "É absolutamente urgente e necessária uma formação muito importante e específica, para que não tenhamos dramas em vez de apoios", refere, em alusão à tragédia que aconteceu na Serra de Sintra, em 1966, quando 25 militares do Regimento de Artilharia de Queluz morreram ao tentar combater um incêndio.
Os próprios espanhóis já se deslocaram em tempos ao Parlamento português para explicarem como atuam. "Tivemos oportunidade de assistir a esse debate na sala do Senado da Assembleia da República, e na altura o comandante da UME esteve em Lisboa a expor e a explicar a sua Constituição, os seus objetivos, a forma de agir, a preparação e os efetivos", conta. "É uma realidade que está a anos-luz da nossa realidade, por muito boa vontade que exista no Regimento de Apoio Militar de Emergência, de Abrantes. Temos a consciência de que os efetivos e os meios estão muito longe de atingir aquele nível de eficácia", admite.
Às críticas que se ouvem amiúde junto da população que questiona o que estão os militares a fazer nos quartéis quando um país se encontra a arder, Lima Coelho lembra que a falta de efetivos, que atinge todos os ramos militares, é um dos grandes problemas para que exista uma unidade destinada a combater fogos e considera que o apoio às populações é também função dos militares. No entanto, "para ter uma unidade idêntica ou equivalente à espanhola temos de ter a consciência do problema que estamos a ter com efetivos, com a dificuldade de atratividade e retenção, e isto é que tem que ser devidamente equacionado, para que não se fique com a ideia de que há muitos que não estão a fazer o que deviam, quando efetivamente não há assim tantos", afirma.