Universidade de Coimbra lidera projeto de 9,5 milhões para combater a obesidade
O "PAS GRAS" vai ter a duração de cinco anos e, segundo o coordenador, o objetivo é reduzir a prevalência da obesidade em cerca de 15% nos adultos e 30% nas crianças até 2050.
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O projeto "PAS GRAS: redução de riscos metabólicos, determinantes ambientais e comportamentais da obesidade em crianças, adolescentes e jovens adultos" vai ser liderado pela Universidade de Coimbra e envolve parceiros de oito países europeus. Como a duração de cinco anos, é financiado em 9,5 milhões de euros pela Comissão Europeia.
"O nosso grande objetivo, com grande impacto deste projeto, é que até 2050, com o que vamos fazer no projeto, é reduzir em cerca de 15% a prevalência da obesidade nos adultos e 30% nas crianças", explica o investigador Paulo Oliveira que coordena o "PAS GRAS".
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Segundo o vice-presidente do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra, uma das questões a explorar são as determinantes da obesidade. "Uma pessoa pensa que tem uma alimentação menos cuidada, come demais ou come alimentos muito ricos em açúcar e gordura, mas não é só isso. É a falta de exercício físico, que em Portugal, infelizmente, é algo que se passa amiúde, e são outros fatores que muitas vezes nem pensamos neles que são fatores relacionados com a própria saúde mental, fatores relacionados com a família, com os aspetos socioeconómicos, com o ambiente".
Paulo Oliveira afirma que "tudo interage com as características intrínsecas das pessoas, quer a nível psicológico, quer a nível genético e a nível metabólico. São tudo fatores que podem resultar ou que podem determinar que uma pessoa tenha mais propensão para ter excesso de peso e desenvolver obesidade."
Neste projeto, os investigadores vão usar um algoritmo que reconhece o risco de sofrer de obesidade ou, de quem ja é obeso, de ter complicações.
O "PAS GRAS" vai ainda estudar possíveis intervenções não farmacológicas, como a dieta mediterrânica. O objetivo é estudar "quais as componentes desta dieta é que estão associados a estes efeitos benéficos em tudo o que se relaciona com a obesidade".
"Não é só estudar que moléculas é que existem em cada componente da dieta, mas é também estudar alimentos que nem sempre são associados com a dieta mediterrânica. E foco em dois que é o que vamos explorar mais: cogumelos e uma mistura de ervas que é muito usada no Líbano e em alguns países do Norte de África chamada zaa"tar".
Segundo Paulo Oliveira, esta mistura "tem alguns efeitos muito interessantes ao nível da obesidade. Nós vamos tentar perceber porquê".
Outra vertente deste projeto é a literacia em saúde com o desenvolvimento de materiais, cuja elaboração vai contar com a participação de grupos de trabalho de pessoas com excesso de peso.
A atividade física é outra componente, com o "PAS GRAS" a acompanhar, durante um ano, "jovens, crianças, adolescente que estejam mais em risco" e que a Associação de Ginástica do Centro, um dos 15 parceiros, vai ajudar a incorporar. "Os clubes de ginástica, quer nas escolas, quer os clubes desportivos, vão ser laboratórios vivos onde vamos verificar se a prática regular de ginástica, com os materiais de literacia, vão ser eficazes em reduzir o risco a cada um dos jovens que vamos identificar", explica o coordenador.
O projeto inclui ainda um estudo clínico a ser efetuado pelos parceiros da Suécia, Itália e Espanha. No caso de pessoas sem risco de sofrer complicações, Paulo Oliveira conta que um dos grupos "vai consumir a dieta mediterrânica, várias vezes ao longo da semana". Já outro grupo "consome a dieta mediterrânica enriquecida em cogumelos ou a mistura de ervas e o terceiro [grupo] a dieta mediterrânica com jejum intermitente".
Com pessoas que fazem tratamento com medicamentos, Paulo Oliveira explica que vão adicionar, "ao mesmo tempo, a dieta mediterrânica ou suplementada com os cogumelos ou as ervas e vamos verificar se as duas coisas em combinação são muito mais eficazes do que as duas coisas isoladas".
O projeto "PAS GRAS" é coordenado pelo consórcio Centro de Inovação em Biomedicina e Biotecnologia, pelo Instituto de Investigação Clínica e Biomédica de Coimbra e pelo Centro de Estudos e Investigação em Saúde da Universidade de Coimbra.
O lançamento do projeto decorre durante esta quinta-feira em Coimbra, contando com comunicações dos cientistas Philipp Scherer, John P. A. Ioannidis, ambos de de universidades dos Estados Unidos, e Casper Schalkwijk, dos Países Baixos, que integram a comissão de aconselhamento externa do projeto.