"Uns são filhos e outros enteados." Lesados do BPP acusam Ministério das Finanças de discriminação
São cerca de 60 os credores do BPP que consideram que há um tratamento diferente por parte do Estado desde o início do processo de insolvência do banco.
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Os lesados do BPP acusam o Ministério das Finanças de discriminação depois de se ter tornado pública a injeção de cerca de 50 milhões de euros na Comissão Liquidatária do BANIF. A associação que representa os credores do BPP considera que está em causa um tratamento discriminatório por parte do Estado perante quem perdeu todo o dinheiro dos depósitos acima dos 100 mil euros definido para a garantia.
Por isso, os lesados do BPP afirmam que só podem imaginar que algum interesse não está claro para que o Governo trate uns cidadãos como filhos e outros como enteados.
"Desde logo porque o Governo tratou de forma diferente os depositantes do BPP e os depositantes de outros bancos que tiveram problemas. O BPP foi o único banco na zona euro que teve problemas e onde os depositantes perderam os depósitos", defendeu à TSF Jaime Antunes, presidente da Privado Clientes, representante dos lesados.
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São cerca de 60 os credores do BPP que consideram que há um tratamento diferente desde o início do processo de insolvência do banco.
"Não há na lei nenhuma garantia além dos 100 mil euros e os modelos que o Governo decidiu para resgatar os outros bancos passaram todos pela garantia dos depósitos, exceto no caso do BPP. Não há nenhuma razão para isso. O BPP tinha o selo de banco dos ricos e, na altura, o Governo entendeu que não tinha que salvar o banco ou os depósitos dos ricos mas, na realidade, os clientes do BPP são tão ricos como os dos outros bancos", explicou o presidente da Privado Clientes.
O representante considera que o Estado está a injetar dinheiro na Comissão Liquidatária para proteger os credores. No entanto, Jaime Antunes acusa a Comissão Liquidatária do Banif de não liquidar nada e gastar o dinheiro dos credores, sublinhando que, para funcionar, já despendeu mais de 50 milhões de euros.
"Uns são filhos e outros são enteados e, neste caso, somos os enteados. Temos uma Comissão Liquidatária que está, desde 2010, para liquidar o BPP, um pequeno banco. Não liquida e está a consumir o dinheiro dos credores à razão de cerca de quatro milhões por ano. Portanto, neste tempo de vida da Comissão Liquidatária já gastou cerca de 50 milhões de euros dos credores", afirmou.
Um caso que levou os credores a apresentar várias queixas em tribunal, mas há 12 anos que aguardam o início do julgamento.
"Temos ações em tribunal contra o Estado, contra o Banco de Portugal, contra a Deloitte por negligência na auditoria das contas e contra o Ministério das Finanças. Processos esses que se arrastam nos tribunais por tempos indefinidos. São processos que datam de 2012, alguns deles, e ainda nem sequer começou o julgamento", acrescentou Jaime Antunes.