Urgência de Cirurgia de Mirandela encerrada há dois anos: "Só não levam o hospital porque não o podem arrancar"
Começou por ser uma medida temporária, mas já passaram 24 meses e o serviço continua fechado
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A 7 de outubro de 2023, a urgência de cirurgia-geral do hospital de Mirandela encerrou. Na altura, a administração da Unidade Local de Saúde do Nordeste (ULSNE) alegou que se tratava de uma situação temporária, para fazer face aos constrangimentos na elaboração de escalas devido à recusa da maioria dos médicos em realizar trabalho extra para lá das 150 horas, estipuladas na lei.
Os três cirurgiões que prestavam serviço na unidade hospitalar de Mirandela foram alocados à urgência do hospital de Bragança, da mesma área de abrangência da ULSNE. Vinte e quatro meses depois, o serviço continua fechado.
A administração alega que os três cirurgiões “manifestaram indisponibilidade para continuar a realizar serviço de urgência, devido à sua idade e a lei protege-os”, dado que os médicos podem optar por não trabalhar à noite nos serviços de urgência, a partir dos 50 anos, e, depois dos 55, podem pedir dispensa total do trabalho nas urgências.
"Enquanto não tivermos mais médicos nessas áreas, não podemos reabrir a urgência de cirurgia geral”, sublinha a ULSNE, sem adiantar se já foram colocadas a concurso vagas nesta valência.
O presidente do Município de Mirandela ainda acredita que o serviço possa reabrir e aposta na via diplomática. “Temos de voltar à mesa das negociações, porque temos de perceber que esta valência serve muito mais população do que apenas os habitantes de Mirandela e este centro geográfico tem de ser potenciado, pelo que não podem continuar a olhar para nós de lado, temos de nos fazer ouvir”, afirma Vítor Correia.
A população sente uma enorme revolta com o encerramento de mais um serviço no hospital. “Daqui a pouco levam tudo do hospital e vai tudo para Bragança ou Vila Real”, diz Maria Silva, habitante da cidade do rio Tua. “Só não levam o hospital porque não o podem arrancar”, afirma, revoltada, Lurdes Figueiredo, outra habitante de Mirandela.
Não há, por isso, qualquer previsão de uma data para a eventual reabertura do serviço. Enquanto isso, há dois anos que os doentes que estão na área de abrangência da urgência do hospital de Mirandela, ou seja, cerca de 47 mil habitantes dos concelhos do sul do distrito - Alfândega da Fé, Vila Flor, Carrazeda de Ansiães, Mirandela, Freixo de Espada à Cinta e Torre de Moncorvo – que necessitem de ser vistos por um profissional de saúde ligado à cirurgia geral, ou que tenham de ser submetidos a uma intervenção cirúrgica urgente, estão a ser encaminhados para a urgência do Hospital de Bragança.
