Vacinação em Portugal? "Não pode ser o salve-se quem puder. Não podemos falhar nisso"
António Costa foi entrevistado no primeiro dia de Portugal no novo estado de emergência. Além do combate à pandemia, o primeiro-ministro falou sobre as eleições nos EUA e recusou qualquer acordo com o Chega.
Corpo do artigo
Portugal está em estado de emergência desde segunda-feira, com a imposição do recolher obrigatório. António Costa, em entrevista à TVI, lembrou que, no primeiro estado de emergência, o número de novos casos diários de Covid-19 rondava o 1500, estando hoje perto dos 4100.
No dia em que a farmacêutica Pfizer anunciou que a vacina que está a desenvolver tem 90% de eficácia, o primeiro-ministro garante que, na União Europeia (UE), os países vão receber as vacinas em função da sua população. "Ainda este mês, os da UE têm de apresentar uma estratégia nacional de vacinação", que já está a ser preparada.
"Não pode ser um salve-se quem puder", alerta António Costa sobre os critérios para distribuir as vacinas pelos portugueses. O chefe de Governo lembrou que a distribuição de vacinas "não pode falhar".
13014659
Entrevistado por Miguel Sousa Tavares, o primeiro-ministro notou que "estamos num momento em que ainda conseguimos ter capacidade de controlar a pandemia".
"Ainda não entrámos em situação de rutura", garantiu o governante, reforçando a necessidade de controlar os casos antes de estes terem de chegar ao Serviço Nacional de Saúde.
O primeiro-ministro lembra que foi garantido o aumento da capacidade de resposta no SNS e na linha SNS24, bem como a capacidade de testagem, vigilância e internamento.
A transmissão da doença depende exclusivamente das pessoas
"Há uma coisa que não depende do Governo, depende exclusivamente do comportamento das pessoas: a transmissão da doença", realça o primeiro-ministro.
António Costa explicou que o Governo não recorreu mais cedo aos funcionários públicos que estão em quarentena ou isolamento profilático para fazer os inquéritos epidemiológicos porque o crescimento foi exponencial e, antes, o problema não existia.
"Nós, como todos os outros países da Europa, não previmos que esta segunda vaga surgisse tão cedo, isso é claro. Todos estavam muito preocupados com a abertura do ano letivo, felizmente correu muito bem. Sentimos que as pessoas, no seu conjunto, não reagiram tão prontamente como no passado", ressalvou o primeiro-ministro.
13015689
Sobre a ajuda que pode ser dada aos profissionais de saúde, o primeiro-ministro refere que "a maior ajuda que podemos dar é a de que as pessoas não fiquem doentes". "Qualquer um de nós, sozinho, não corre o risco de contaminar nem ser contaminado", nota António Costa, que pede "o máximo de isolamento a cada um".
SNS tem 704 camas para cuidados intensivos Covid-19
O Serviço Nacional de Saúde tem 17 mil camas, mas o primeiro-ministro sublinha que não é possível usar todas como camas de cuidados intensivos. Por isso, em UCI para doentes Covid-19 existem apenas 704.
"Temos recorrido a privados para acolher esses doentes. Um dos problemas que tínhamos são as chamadas altas sociais, tínhamos 900 e tal e neste momento temos 300 pelo trabalho que temos feito com as IPSS", afirmou.
Neste momento, o SNS tem 704 camas em cuidados intensivos disponíveis para doentes Covid-19, 944 perturbando outras atividades.
"Temos um conjunto de obras noutros hospitais para aumentar a capacidade", garantiu o primeiro-ministro.
Mantenho toda a confiança em Marta Temido
Questionado sobre a confiança em Marta Temido, o primeiro-ministro garante ter "confiança reforçada" na ministra da Saúde, e defende que o Serviço Nacional de Saúde "até agora não falhou em nada".
"Mantenho toda a confiança e, aliás, uma confiança reforçada. Nenhuma ministra da Saúde foi sujeita a uma situação como esta", explicou.
Admitindo que tem havido "um grande esforço de recuperação" da capacidade do SNS para doentes não-Covid, Costa lembra que "não pode haver um mundo próprio para o Covid".
Como o novo coronavírus é uma doença que aumenta com a concentração de pessoas, Costa clarifica que as novas medidas servem para evitar o convívio familiar, onde o vírus tende a propagar-se mais, e não para prejudicar a restauração.
13015669
"Fora dos 121 concelhos estas normas não estão em vigor. Há uma obrigatoriedade de não circulação em determinadas horas do dia para evitar o convívio familiar, que é uma das principais fontes de contágio. Esses contactos não são os contactos que os agregados familiares têm entre si, mas sim com o resto da família. As pessoas em família sentem-se em segurança e não usam máscara", esclareceu.
António Costa revelou também que o Governo vai anunciar, esta semana, um pacote específico para apoiar as empresas da restauração.
"Nunca negociarei com o Chega"
Enquanto secretário-geral do PS, António Costa diz que o PSD fez um acordo "com um partido de extrema-direita xenófobo" nos Açores para viabilizar um Governo.
Costa refere que os social-democratas fizeram um acordo "com o Chega, sem o Chega mudar", admitindoque o problema é com a "natureza do Chega", e não com a composição Parlamentar nos Açores.
A xenofobia põe em causa a dignidade da pessoa humana
"A xenofobia põe em causa algo essencial, que é a dignidade da pessoa humana", insiste o primeiro-ministro. "Nunca negociarei nada com o Chega."
Sobre as eleições nos EUA, Costa admite que com a eleição de Biden, "possa renascer a relação transatlântica". "Quer a relação Europa-EUA, quer o facto de Biden ter dito que no primeiro dia do mandato vai regressar ao Acordo de Paris, dão um grande alento", reconhece o primeiro-ministro. "São boas notícias para o mundo", remata.
Joe Biden venceu as eleições dos EUA, depois de quatro anos de mandato de Donald Trump. Ainda assim, o atual inquilino da Casa Branca recusa aceitar os resultados e garante que há irregularidades.
*Com Gonçalo Teles e Cátia Carmo
13017506