"Vai causar-me muito transtorno." Ligação de comboio entre estações de Coimbra acaba este domingo
O fecho da Estação de Coimbra acontece para que possam prosseguir as obras de conversão do canal ferroviário para a solução Metrobus. A ligação entre as duas estações vai ser assegurada por autocarros
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Quando passarem vinte minutos da meia-noite deste domingo, dia 12 de janeiro, partirá da Estação de Coimbra, também conhecida por Estação Nova, o último comboio. O destino é a Figueira da Foz. A data do encerramento foi anunciada pela Metro Mondego no final da semana passada.
Apesar dos avisos que estão espalhados pelo edifício da estação, nem todos sabem do encerramento. É o caso de Helena, estudante universitária. “É uma novidade, por acaso. Não estava à espera.”
A Estação Ferroviária de Coimbra é encerrada para que possam prosseguir as obras de conversão do canal ferroviário para a solução Metrobus. Segundo o comunicado da Metro Mondego, as obras, a cargo da IP, “deverão estar concluídas no final de 2025, permitindo que o Metrobus efetue, a partir dessa data, a ligação entre a Portagem e Coimbra B”.
Com o fecho da estação, no centro da cidade, Helena aponta como alternativa nas deslocações de fim de semana a casa, na Figueira da Foz, o autocarro ou então apanhar o comboio na Estação de Coimbra-B. Uma opção menos cómoda: “É sempre puxadito, porque vivemos aqui perto da Estação [Nova].”
Há 50 anos que Alice viaja de comboio, todos os dias, entre a Pampilhosa e Coimbra, e considera que o encerramento vai ter “muito” impacto na rotina. Pode ter de começar a chegar mais cedo à cidade. “Às 08h00 para entrar às 09h00 ando aqui a vaguear.” Atualmente, apanha o comboio das 08h13. “Para mim, vai causar-me muito transtorno.”
Até o Metrobus assegurar a ligação entre a Portagem e Coimbra-B, estará a funcionar um sistema de transbordo rodoviário entre as duas estações, gratuito para os passageiros da CP.
“A frequência prevista é de doze autocarros por hora, nos períodos de ponta, diminuindo um pouco fora destes períodos, ficando assegurada a ligação a todos os comboios que atualmente chegam (ou partem) da Estação de Coimbra e que passarão a ter como término a estação de Coimbra B”, assegurou, em comunicado, a Metro Mondego.
De acordo com a Metro Mondego, os autocarros estarão devidamente identificados e, nos primeiros tempos, haverá pessoal de apoio para assegurar o encaminhamento dos passageiros.
“Por onde é que ele [o autocarro] vai passar? Pela Avenida Fernão de Magalhães? O problema também é esse… E nem é só para nós. É para as pessoas que viajam de carro. Se a Avenida Fernão de Magalhães já está sempre com tanto trânsito, com um autocarro desses que consequentemente está a passar… vamos ver”, assinala Alice.
Atualmente, a viagem entre as duas estações demora, de comboio, cerca de três minutos.
Na segunda-feira, Alice não conta ainda mudar a rotina. “Vou vir à mesma hora para ver o que é que vai acontecer.”
A questão do transbordo entre as duas estações é também assinalada por Maria José. Uma vez por semana usa o comboio na deslocação entre a Mealhada e Coimbra. “É muita gente para vir nos autocarros”, diz, acrescentando que o comboio que apanha de manhã “vem sempre cheio”.
José Luís manifesta-se contra o fecho da Estação Nova. Na sua opinião, “representa, fundamentalmente, para a Baixa de Coimbra e para a população de Coimbra, uma catástrofe”. E acrescenta: “Porque vão fechar um centro para meter um auditório de convenções, etc - é o que dizem -, isto é um ex-líbris da cidade.”
A escassos metros da estação, Delfina tem uma loja de venda de frutas. Questionada sobre o impacto do encerramento para o negócio, diz ser “péssimo”. “Porque passa muita gente aqui. É sempre mau.”
Ainda assim, mostra-se otimista. “Se formos bem a ver, quando vier o metro também não vai para aqui. Mas eu já tenho pensado, e é verdade, as pessoas quando gostam, diz-se, movem-se montanhas.”
A abertura do ramal de Coimbra (Coimbra-B a Coimbra-A) data de 1885. O atual edifício, dos arquitetos Cottinelli Telmo e Luís Cunha, foi inaugurado em 1931. Foi classificado como Monumento de Interesse Público em 2013.
À TSF, a Câmara Municipal de Coimbra (CMC) diz que o edifício da estação “passará para gestão” da autarquia, “com novos projetos e desafios, tirando partido da sua localização estratégica e da futura zona ribeirinha requalificada”.
“A reconversão da atual estação, que será debatida com a cidade, deverá dar resposta a diferentes necessidades da comunidade local, prevendo-se a conjugação de usos, incluindo: espaço cultural e museológico (com galerias e exposições permanentes ou temporárias), serviços do sistema multimodal de transportes (disponibilização de informações e serviços de mobilidade); comércio, turismo e lazer (contribuindo para estimular a economia local); espaços de escritórios ou coworking (tirando partido da sua localização central e facilidade de acesso), apoio logístico (por reconversão das instalações dos motoristas da CP para motoristas dos Serviços Municipalizados de Transportes Urbanos de Coimbra)”, adianta a CMC, em resposta à TSF.
