É a promessa de um grupo de jovens da Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental de Lisboa, que, na próxima segunda-feira, dia 1 de fevereiro, leva ao palco do Teatro Maria Matos, um espetáculo de dança inspirado em Dick Tracy.
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O famoso "gangster" e a namorada Jessica Rabbit são as "estrelas" de "Once Upon a Time". A ação passa-se na Chigaco dos anos 30 do século 20, uma cidade em que Dick Tracy "mandava".
Jessica é Márcia Rodrigues, 20 anos, a mais alta do grupo. De vestido comprido, esbelta, sensual, caminha de espelho na mão, enquanto retoca a maquilhagem.
Márcia não é propriamente uma estreante nisto da dança. Desde os 10 anos que dança ritmos portugueses, africanos, latinos. Mas compor a Jessica não foi tarefa fácil: "ela é muito vaidosa e muito elegante", duas características que a jovem entende não ter.
Mas isso resolve-se: "tenho de pôr uma postura, maquilhar-me, pôr-me bem bonitinha", diz, a sorrir. E lá vai confessando o "segredo": "quando oiço a música, entro na cabeça da personagem".
A concentração é tudo. A professora e coreógrafa, Ana Kholer, confirma a grande evolução da "sua" Jessica. No início, "só entrar em palco, caminhar e imaginar que se estava a ver ao espelho e a maquilhar, era uma tensão enorme. Ela não conseguia"! Mas, com o treino, tudo mudou: "agora vemo-la uma mulher bonita, sensual.«!". Márcia "libertou-se", é a opinião de todos.
Neste último ensaio antes do "grande dia", tudo corre bem. Mas a coreógrafa pede só mais um bocadinho de "espontaneidade". Afinal, é preciso concentração, mas apenas "q.b.". "Não precisam de ficar com um ar tão sério! Principalmente, quando se passa tudo nas ruas, cruzamo-nos e conversamos, com as amigas, por exemplo, e vamos satisfeitas", pede Ana Kholer.
O espetáculo tem 40 minutos de duração. No ensaio, repete-se a coreografia duas vezes. Praticamente sem qualquer ajuda ou indicação, porque todos os passos estão mais do que sabidos. No final, há sorrisos, abraços, palmas. Estão prontos. Venha uma sala cheia. A promessa é que vai mesmo ser "de arromba"!
Dança inclusiva
Ao longo do último ano, um grupo de 16 jovens - 4 rapazes e 12 raparigas - da APPACDM de Lisboa, teve aulas na Escola de Dança Ana Kohler, que faz parte do Conselho Internacional de Dança da Unesco.
Começaram por aprender as regras e o vocabulário básico da dança, embora, para muitos, este não fosse um mundo totalmente desconhecido.
Ana Kohler diz que ensaiá-los não exigiu "passos especiais", apenas respeito pelos limites de cada um. É preciso "perceber até onde vai o elástico, por assim dizer, até onde é que se pode puxar e adaptar tudo às capacidades deles e garantir que há um desenvolvimento".
Filomena Abraços, diretora da APPACDM de Lisboa, lembra que vários destes bailarinos já faziam parte do grupo de dança da associação. Mas a ideia da parceria do a Escola de Dança Ana Kholer e de "Once Upon a Time" é precisamente quebrar barreiras.
"É pô-los a dançar para toda a gente; é dançarem como toda a gente; que tenham aulas com pessoas dita normais; que, com este espetáculo, possam ir mais além".
Para "Once Upon a Time", na segunda-feira, no Teatro Maria Matos, em Lisboa, já quase não há bilhetes. Os poucos que restam estão à venda na APPACDM.