"Vai tudo embora e alguém fica a apanhar cinzas que vão pelos ribeiros abaixo"
O autarca de Mação alerta que é preciso fazer alguma coisa pelo interior do país, onde aldeias desertas são pasto para as chamas. Assim, diz Vasco Estrela à TSF, nada vai restar para os nossos netos.
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"O que me surpreende é como há pessoas que ainda podem ficar surpreendidas por situações destas ocorrerem. Preparem-se porque o que está a acontecer em Mação vai acontecer noutros pontos do país, quando temos milhares de aldeias desertas, sem pessoas, ou as pessoas que lá estão são idosas, encobertas de vegetal por todo o lado. Portanto, é insustentável. Se não for para o próximo verão, é para o outro ou é para o outro", alerta Vasco Estrela.
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Nestas declarações à TSF, o autarca apela: "metam aqui os olhos, na desgraça dos outros, e que façam alguma coisa pelo interior de Portugal. Pensem que todas as estimativas indicam que 80% da população portuguesa irá viver nas áreas urbanas em 2040. O que vai ser destes territórios?".
Vasco Estrela afirma que infelizmente a memória é curta e depois da tragédia, só os que ficam recordam. "As pessoas vão começar a vir cá - comunicação social, membros do Governo - de vez em quando, quando há tragédias, e depois vamos lamentar muito durante um ou dois meses que isto ardeu. Depois vai-se tudo embora e por aqui alguém fica a apanhar as cinzas que vão pelos ribeiros abaixo".
O autarca de Mação, onde as chamas já destruíram 30 mil hectares e provocaram mais de 130 deslocados, pede ainda um tratamento diferenciado para o seu concelho. Vasco Estrela recorda que Mação é considerado exemplar no que diz respeito à limpeza da floresta mas este ano foi invadido pelos incêndios nos concelhos vizinhos - Abrantes e Vila de Rei.
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"Obviamente não estou a imputar culpas a ninguém, longe de mim, não é disso que se trata, mas efetivamente foram incêndios que entraram em Mação de forma completamente descontrolada", sublinha.
Sobre a intenção do Governo de declarar o estado de calamidade pública com efeitos preventivos, Vasco Estrela espera que possa ajudar outros concelhos, mas "infelizmente para Mação não será tão útil como isso. Mas é uma medida adequada face à gravidade daquilo que possa vir a suceder".