"Vamos ser todos artistas." Algarve com as mãos no barro para incluir a diferença
O Festival de Artes Inclusivas é uma organização da Associação Teia d'Impulsos e decorre até ao mês de maio
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Os jovens adultos vão chegando à sala com um sorriso. Colocam-se numa mesa formada em U. A proposta da Associação Teia d'Impulsos é participarem numa oficina de cerâmica nas suas instalações no espaço Raíz, em Portimão.
“Olá, eu sou a Lilia”, apresenta-se a formadora. “Estou aqui para fazermos uma experiência com barro e vamos dar uso às mãozinhas. Hoje vamos todos ser artistas”, anuncia.
Lilia Lopes é a formadora desta iniciativa, a segunda que se realiza inserida no Festival de Artes Inclusivas. A ideia é da Associação Teia d'Impulsos pretende mostrar as capacidades e competências artísticas de pessoas com deficiência cognitiva, promovendo a inclusão e igualdade de oportunidades através da cultura. O festival pretende ser descentralizado e a primeira iniciativa foi uma oficina de dança, realizada em Messines. Em abril, será a de fotografia (em Albufeira) e em, maio, a de teatro (em Loulé).
Cláudia Sintra, da Teia d'Impulsos, incentiva os formandos. ”Depois vamos cozer os vossos trabalhos e fazer uma exposição para o próximo ano. Uma grande responsabilidade”, brinca.
Do Núcleo Especial do Cidadão Incluso (NECI), situado em Lagos, vieram vários alunos. A formadora ensina a fazer uma pequena taça. Adapta o seu discurso a este público diferente. ”Agora vamos pôr assim as mãos, em conchinha, é como se fosse uma boca de crocodilo”, explica. “Ui, o crocodilo morde”, diz o Carlos. “Por isso é que o dedo não pode ficar aqui muito tempo”, responde Lilia.
Carlos é dos alunos mais interessados. Chegou acompanhado pela professora Carolina Dias, que constantemente é chamada para dar-lhe apoio, para o incentivar e explicar alguma dúvida. Carolina, que os acompanha todos os dias, sabe bem o que representa para estas pessoas fazerem uma atividade diária diferente e sentirem-se integradas. “Tudo o que são saídas para o exterior, o contacto com gente diferente, é super importante para eles”, garante.
O objetivo é “dar-lhes oportunidade de participarem em projetos que a sociedade normalmente constrói para os outros e não para a diferença”, afirma Cláudia Sintra. “Aqui queremos incluir também as entidades que trabalham com a diferença e os profissionais que estão por detrás, que habitualmente não têm possibilidade de mostrar o trabalho que fazem com estas pessoas extraordinárias”, acrescenta.
No final do workshop, Raquel já conseguiu fazer muita coisa. Pode parecer pouco para quem olha de fora, mas para ela é um enorme feito. “Fiz um caracol, uma taça e um sol”, explica, apontando para as pequenas peças em barro.
Lilia, que está a dar esta formação de cerâmica, considera que o entusiasmo destas pessoas com deficiência cognitiva é a maior gratificação que poderia ter. ”Isso vale tudo”, assegura sorrindo.