Especialista do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge lembra que os primeiros casos foram detetados no mês de dezembro.
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Daqui a três semanas, 65% dos casos de Covid-19 em Portugal vão ser provocados pela variante britânica. A previsão é feita por João Paulo Gomes, especialista do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, ouvido na comissão eventual de acompanhamento da resposta à pandemia no Parlamento.
"Estimamos que, neste momento, entre 35 a 40% dos casos de Covid-19 em Portugal já sejam provocados pela variante do Reino Unido. Estou a falar em termos de totais nacionais. Em termos de evolução da sua frequência relativa ou prevalência, se no início do mês de dezembro estimávamos que não passaria de 1,5%, neste momento está em crescimento exponencial e estimamos que a taxa de crescimento por semana atinja os 90%. Nesse âmbito posso dizer-vos que estimamos também que, dentro de três semanas, cerca de 65% de todos os casos Covid-19 em Portugal sejam causados pela variante do Reino Unido", explicou João Paulo Gomes.
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João Paulo Gomes lembra que os primeiros casos foram detetados no mês de dezembro e aconteceram devido ao regresso de muitos emigrantes e turistas britânicos que não tinham de apresentar teste à chegada.
"No mês de dezembro começaram a surgir os primeiros casos. Esses casos terão sido associados, naturalmente, com o regresso massivo dos nossos emigrantes do Reino Unido durante o mês de dezembro e também pelos muitos turistas britânicos que vieram passar férias durante dezembro", afirmou o especialista do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge.
Já sobre outras estirpes, João Paulo Gomes sublinha que, até à data, a variante brasileira não foi detetada no país e que, até esta sexta-feira, há apenas um caso registado da variante sul-africana.
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"Não detetámos, até à data, qualquer caso que confirmasse a presença da variante brasileira. No que diz respeito à variante da África do Sul, como saberão foi identificado, até agora, apenas um caso. Estamos também, tal como para a variante brasileira, em estreita colaboração com as autoridades de saúde, que nos têm notificado alguns casos suspeitos", revelou João Paulo Gomes.
Sobre a capacidade de testagem instalada no país e que foi um tema transversal às questões de todos os grupos parlamentares, a vogal do conselho diretivo do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge, Cristina Abreu Santos, nota que nesta altura é possível fazer cerca de 60 mil testes PCR por dia. Um número a que acresce ainda os chamados testes rápidos.
"Atualmente, a capacidade de testagem aferida pela metodologia convencional, de PCR, é neste momento de cerca de 60 mil testes por dia. Se formos fazer, novamente, uma comparação com julho, esta capacidade era de 28 mil testes por dia. Isto não significa que há capacidade máxima. Além desta capacidade de metodologia PCR acresce ainda a capacidade de testagem com testes rápidos de antigénio", acrescentou Cristina Abreu Santos.
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Números que provam o aumento da capacidade de testagem, com Cristina Abreu Santos a dizer que o dia 22 de janeiro foi aquele em que mais testes foram feitos, num total de 77 mil.
Confiança dos portugueses na resposta dos serviços de saúde em queda
Os portugueses confiam cada vez menos na capacidade de resposta dos serviços de saúde face ao agravamento da pandemia de Covid-19 no país, revelou esta sexta-feira a diretora da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), Carla Nunes.
Numa audição conjunta com outros especialistas em saúde pública na Comissão Eventual para o acompanhamento da aplicação das medidas de resposta à pandemia e do processo de recuperação económica e social, a investigadora detalhou os números mais recentes do barómetro Covid-19 do ponto de vista da opinião social e traçou um cenário crítico em termos de confiança dos cidadãos.
"Temos um nível de confiança na capacidade de resposta dos serviços de saúde muito grave. Ao nível de Covid temos 58% dos portugueses a responder "pouco ou nada confiante" e 80% em relação à resposta não Covid. Estes são valores da última quinzena, de 09 a 22 de janeiro, e são valores muito graves", afirmou Carla Nunes na sua intervenção inicial aos deputados.
Ao nível da perceção social, a investigadora destacou também que "a perceção do estado de saúde dos portugueses e da sua saúde mental tem piorado" ao longo da pandemia. De acordo com o estudo, os mais jovens são quem mais indica a existência de estados de ansiedade e ainda se regista que "um em cada três acha que não tem probabilidades de ter um caso severo de Covid-19".
Por outro lado, a responsável da ENSP assinalou que "a adesão e a confiança cada vez mais fortes" da população em relação às vacinas contra a Covid-19, sublinhando que 70% dos inquiridos no estudo dizem que tomam logo a vacina assim que estiver disponível e "somente 16% a dizer que não confia" nas vacinas.
Finalmente, Carla Nunes apontou entre as maiores preocupações a "adoção das medidas", as "sequelas a longo prazo", as "desigualdades" e, sobretudo, o plano de recuperação nas áreas de resposta à Covid e às outras patologias.
"Tem desde já de ser montado com bastante antecedência, dada a situação em que estamos", resumiu, vincando a preocupação com o excesso de mortalidade: "Não é um evento binário Covid e não Covid".
Em Portugal, morreram 11 886 pessoas dos 698 583 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.