Várias cidades portuguesas manifestam-se contra rendas elevadas e falta de habitação
No próximo sábado, 1 de abril, várias cidades portuguesas vão sair à rua pelo direito à habitação. A iniciativa é internacional, foca-se no direito à habitação e no aumento acentuado dos preços das rendas, mas em Portugal tem objetivos concretos.
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Em Lisboa, Porto, Braga, Aveiro, Coimbra e Viseu há uma concentração para lutar contra as rendas das casas demasiado elevadas e a falta de habitação social. Em Viseu, a plataforma "Já Marchavas" tem estado ao longo da semana em pontos estratégicos da cidade e da região a apelar à concentração no próximo sábado.
A plataforma "Já Marchavas" considera que é preciso identificar edifícios devolutos que possam ser trazidos para a hasta pública e para o arrendamento, "edifícios do Estado central e local, mas que estão ao abandono, que não eram de habitação e tinham outras funções, mas trazê-los para a habitação e colocá-los no mercado de arrendamento a preços controlados", sublinhando também que a garantia de respostas de residências para estudantes do ensino superior significa "garantir o acesso ao ensino".
A ação de divulgação da concentração do próximo sábado, em Viseu, decorreu ao longo da semana em todas as escolas superiores do Instituto Politécnico, mas também estiveram no CAOS, a Casa de Artes e Ofícios, onde criaram um atelier no qual as pessoas foram convidadas a escrever frases de protesto.
A TSF encontrou os elementos da plataforma na Feira Semanal de Viseu. Carlos, Tiago, Miguel e Tânia estão nos corredores da feira e distribuem o panfleto amarelo que apela à concentração. Neste panfleto pode ler-se: "Habitação é um direito humano" e "Casa para viver". Carlos Couto é "empurrado" pelos colegas para ser o porta-voz. Fala na necessidade de mudanças a nível nacional, como por exemplo na intervenção ao nível do preço das rendas e a criação de mecanismos para que a "especulação do preço das casas não coloque em causa o direito a ter um teto".
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Mas nem só o governo central deve olhar para as rendas demasiado elevadas e para a falta de habitação. A nível local, há trabalho a fazer. Viseu "tem uma taxa de habitação pública de pouco mais de 1% quando a média europeia é de 10%", o que leva o porta-voz a dizer que estes números não salvaguardam, por exemplo, emergências.
Mais habitação social, mais habitação cooperativa, mais possibilidades de habitação própria, mas há outros focos de atenção, como por exemplo, o que pagam os estudantes do ensino superior: um quarto ao preço de uma casa. Viseu tinha preços de interior e agora arrendam-se casas e quartos "aos preços de cidades como Lisboa e Porto".
Por outro lado, garante a Plataforma "Já Marchavas", só Viseu tem 3500 habitações vazias, de acordo com o Pordata.
Na feira semanal de Viseu a recetividade foi modesta, mas o mesmo não se pode dizer das várias escolas superiores de Viseu por onde passaram, em que o apelo à concentração reuniu muitos simpatizantes. A justificação? Os estudantes são dos que mais veem a sua vida dificultada com rendas a preços, muitas vezes, incomportáveis.
Presidente e primeiro-ministro em Viseu para ver "bairro social exemplo"
Esta sexta-feira, o presidente da República e o primeiro-ministro vão estar em Viseu para conhecer as obras de reabilitação do Bairro Municipal, ao abrigo do PRR.
A plataforma "Já Marchavas" refere, no entanto, que apesar de o Bairro municipal de Viseu ser dado como exemplo pela autarquia local a Marcelo Rebelo de Sousa e a António Costa, as intenções da autarquia local já foram, inclusive, de demolição destas habitações, que se mantiveram devido a ações de luta da própria comunidade do bairro, como conta Carlos Couto no áudio
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A requalificação do bairro social de Viseu representa um investimento de perto de sete milhões de euros, para remodelar 78 habitações. Deste número, 40 serão mantidas nos atuais moradores e 38 destinam-se a famílias jovens de médios e baixos rendimentos.
Carlos Couto afirma que se trata de "um bairro que, durante dezenas de anos, esteve ao abandono. Habitação pública que foi deixada ao abandono municipal durante décadas. É habitação que já esteve disponível e que se está a renovar. No entanto, não aumenta a oferta pública".