Vários países europeus podem ficar em breve como a China ou o Norte de Itália
Tendência dos últimos dias na Europa é "muito semelhante" ao que aconteceu na província chinesa mais afetada. Peritos da União Europeia temem pela falta de capacidade dos sistemas de saúde.
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As últimas estimativas feitas pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC), tendo em conta a evolução rápida do novo coronavírus nos últimos dias, levam este organismo da União Europeia a dizer que é provável que existam, "dentro de dias ou poucas semanas", outros países europeus a passar por uma situação semelhante à do Norte de Itália ou da China.
O ECDC explica, num documento em que faz o ponto da situação da doença (o mesmo que foi citado pelo primeiro-ministro António Costa quando anunciou medidas mais drásticas), que os dados apontam para uma probabilidade de transmissão "muito elevada" na União Europeia.
Cerca de 80% dos doentes não tem sintomas graves, mas os restantes casos severos (14%) ou mesmo críticos (6%), sobretudo idosos ou pessoas com doenças crónicas (entre elas a hipertensão e diabetes), levam os peritos europeus a dizer que é "elevado" o risco de ser ultrapassada, nas próximas semanas, a capacidade dos sistemas de saúde.
Cuidados intensivos podem não ser suficientes
O ECDC diz que as análises que fez revelam que se a COVID-19 continuar a evoluir como até agora, na Europa, sem medidas de contenção "fortes" e "agressivas", a maioria dos países vai "ultrapassar em muito" a capacidade de resposta das unidades de cuidados intensivos até ao final de março.
O aumento contínuo que a Europa tem registado nos últimos dias de casos de coronavírus "é muito semelhante ao de Hubei em janeiro" o que leva o ECDC a dizer que sem medidas de mitigação, nomeadamente prevenção, o impacto sobre o sistema de saúde e a saúde pública será elevado, numa "saturação" que já se sente em várias partes de Itália nos cuidados intensivos.
As estimativas do ECDC, que o próprio centro diz que têm de ser interpretadas com cuidado pois não têm em conta alguns fatores como as medidas de mitigação que deverão ser tomadas, "a maioria dos países" da União Europeia chegarão ao cenário vivido em Hubei, a província chinesa mais afetada.
Um cenário em que, se nada mudar, arrisca-se a atingir todos os países europeus até meio de abril.
O ECDC teme pela falta de capacidade das unidades de cuidados intensivos dos hospitais, bem como pelo número de salas de isolamento.
Nenhum país europeu tem capacidade para isolar todos os doentes que seriam necessários num quarto hospitalar se for atingido um cenário semelhante ao da província chinesa de Hubei.
O impacto será especialmente elevado se um grande número de profissionais de saúde também for afetado.
Peritos pedem medidas urgentes
O ECDC sublinha que os países têm de implementar rapidamente medidas de mitigação da doença, deixando para trás a fase, menos grave, da contenção e assumindo, no fundo, que a doença já está na comunidade. "O rápido aumento de casos que se antecipa para os próximos dias a poucas semanas pode não dar aos decisores e hospitais tempo suficiente para adaptarem a sua resposta".
Os cenários do ECDC são feitos país a país, mas a interpretação desses resultados para cada país, nomeadamente para Portugal, não é clara nem exaustiva. Foi este relatório do ECDC que na quinta-feira foi citado pelo primeiro-ministro, António Costa, para justificar o fecho das escolas até 9 de abril, durante quase um mês.
O documento defende que os encerramentos proativos de escolas podem ser uma forma de evitar o peso crescente da Covid-19 sobre os sistemas de saúde.