Ventura rejeita saída de Portugal da UE e diz que demissão de Costa "foi boa para a Europa"
"Já sofremos com a tragédia António Costa, não gostávamos que todos os europeus sofressem", diz o líder do Chega.
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O líder do Chega afirmou esta sexta-feira que "não defende nem defenderá" a saída de Portugal da União Europeia, mas uma refundação desta instituição, e considerou que a demissão do Governo português foi "boa para a Europa".
"A queda do Governo de António Costa, no meio de um escândalo de corrupção, um escândalo judicial, é boa não só para Portugal mas também para a Europa", defendeu André Ventura, numa conferência de imprensa no parlamento ao lado da representante do partido francês Rassemblement National, Marine Le Pen, e de Tino Chrupalla, presidente do partido alemão AfD (Alternativa para a Alemanha), que estão em Lisboa para participar num encontro da família política Identidade e Democracia (ID).
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O líder do Chega justificou esta afirmação, dizendo que "a principal ambição de António Costa e dos seus aliados" - que apontou como sendo o Presidente francês, Emmanuel Macron, e o chanceler alemão, Olaf Scholz, - era que o primeiro-ministro português fosse presidente do Conselho Europeu.
"Já sofremos com a tragédia António Costa, não gostávamos que todos os europeus sofressem", disse.
Na conferência de imprensa, que se estendeu por uma hora, André Ventura foi questionado se partilhava da posição expressa minutos antes por Marine Le Pen de que era contra a União Europeia, nos seus atuais moldes.
"O Chega tem tido desde o início uma posição muito clara: não defende nem defenderá a saída de Portugal da União Europeia, mas defende a reforma da União Europeia. Achamos importante uma refundação da UE que dê mais poderes aos Governos para controlo de fronteiras, de migrações, mas também para alterar políticas económicas que estão a favorecer mais a China que os países europeus", afirmou.
Ventura repetiu que, para o Chega, "nunca esteve em causa a presença de Portugal na UE".
"Não é por sermos contra esta UE que somos contra a Europa, somos profundamente europeus", afirmou, considerando que a sua posição é semelhante à de Le Pen.
Na sua intervenção inicial, Ventura tinha salientado a importância de este encontro acontecer em Lisboa, a pouco mais de três meses de legislativas antecipadas.
"O Chega vai disputar e quer a vitória nessas eleições para se tornar uma referência patriótica no contexto europeu", afirmou, dizendo-se disponível a "aprender com os erros e com os sucessos" destes partidos.
Questionado se o Chega não teme, como outros partidos de extrema-direita não conseguir chegar ao poder por falta de diálogo com os partidos da direita moderados, Ventura contrapôs que sempre quis este diálogo.
"O que eu espero em Portugal é que se o Chega vencer as eleições os outros partidos à direita aceitem colaborar para liderarmos um Governo. Se não vencermos, mas houver uma maioria de direita parlamentar, então que haja capacidade de criar essa alternativa", defendeu, acrescentando que é até "uma responsabilidade" da direita apresentar essa alternativa de Governo.
"E não deixar o país numa crise próxima da solução que agora Espanha teve de enfrentar", disse, referindo-se aos acordos do socialista Pedro Sánchez com seis partidos nacionalistas e independentistas das Canárias, Catalunha, Galiza e País Basco para ver o novo Governo de coligação entre PSOE e Somar viabilizado.
A conferência de imprensa realizou-se numa sala do grupo parlamentar do Chega, ao contrário do que o partido pretendia inicialmente, por os serviços do parlamento não terem autorizado que os seus convidados discursassem nos Passos Perdidos da Assembleia da República.
Antes das declarações aos jornalistas, Ventura levou Marine Le Pen e Tino Chrupalla às galerias do plenário da Assembleia da República, enquanto decorria a discussão na especialidade do Orçamento do Estado, numa presença a que só o Chega aludiu e aplaudiu.
A deslocação dos dois convidados estrangeiros pelos corredores do parlamento, com muitos jornalistas atrás, foi acompanhada pela segurança da Assembleia da República que, no final da conferência de imprensa, não permitiu que a comunicação social saísse imediatamente da sala.
A reunião pública da ID decorrerá hoje ao final do dia no Convento do Beato, em Lisboa, estando previstas as presenças e intervenções de Marine Le Pen, do eurodeputado belga Gerolf Annemans, eleito pelo partido flamengo de extrema-direita Vlaams Belang, de Martin Helme, líder do partido de direita nacionalista da Estónia EKRE, do checo Tomio Okamura, do Liberdade e Democracia Direta, de Tino Chrupalla, do Alternativa para a Alemanha, e ainda do eurodeputado austríaco Harald Vilimsky.