Vestidos de branco, participantes passaram a noite à volta de uma fogueira e celebraram o nascer do sol em contacto com a natureza.
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A manhã desta quarta-feira amanheceu nublada e não foi propriamente o cenário ideal para a celebração do Solstício de Verão. Apesar disso, cumpriu-se o ritual de boas-vindas ao dia mais longo do ano com teatralização druida na Necrópole Medieval das Touças, localizada em Garganta, concelho de Sabrosa.
A festa foi organizada pela Associação de História e Arqueologia de Sabrosa com a colaboração da Câmara Municipal deste concelho do distrito de Vila Real. Segundo Gerardo Pereira, elemento daquela associação, foi uma encenação teatral baseada num "antigo ritual druida, provavelmente, do século VI ou VII".
Os participantes vestiram túnicas brancas com capuz para conferir seriedade à recriação com um ator a conduzir um monólogo. "Este chão é nosso. Partilhamo-lo com todos os seres que nos rodeiam. Sintam a luz que está dentro de vós. Abram os braços. Respirem o universo", dizia, durante um cerimonial de mais de vinte minutos.
O ritual também serviu para realçar os quatro elementos: terra, ar, fogo e água. "Elementos fundamentais na cultura dos druidas, que os romanos descreveram parcialmente, dando uma boa visão sobre estas personagens históricas", acrescentou Gerardo Pereira.
Os druidas eram membros de uma classe sacerdotal e eram tidos como líderes espirituais, intelectuais e religiosos da sociedade celta pré-cristã. Tinham vastos conhecimentos sobre a natureza, ciclos naturais, astronomia, filosofia e mitologia daquela época, e acreditavam que existia uma interligação intrínseca entre a natureza e o mundo espiritual.
O cerimonial realizado esta quarta-feira de manhã, a partir das 5.30 horas, pretendeu aproximar-se daqueles que os druidas realizavam em locais sagrados, como florestas, fontes e pedras, demonstrando grande reverência pelos elementos naturais.
Entre os presentes vestidos de branco, Paulo Travassos, sublinhou que "o nascer do sol é algo que nem sempre é possível observar, sobretudo por quem tem uma vida tão atarefada", pelo que decidiu participar neste "momento de partilha".
No momento que ocorreu num sítio com "muita história", Paulo teve a companhia de mais umas dezenas de participantes, entre as quais Mónica Coutinho. A madrugada no local, à volta de uma fogueira, foi descrita como "uma forma de afastamento do mundo real pleno de tecnologias". Dado que a rede móvel é quase inexistente na Necrópole Medieval das Touças, o afastamento tendeu a constituir "um momento perfeito para voltar às raízes".
Para além da celebração do início do verão, a festa também pretendeu "alertar para a importância da valorização de sítios históricos", como a necrópole. Segundo Gerardo Pereira, algumas das pedras existentes naquele local, "foram colocadas em função do posicionamento do sol no dia mais longo do ano".
A Necrópole Medieval das Touças é um sítio conhecido há mais de 100 anos, que tem várias épocas, desde a Alta Idade Media até, mais ou menos, ao final da Baixa Idade Média. Está associada a um antigo povoado aberto, constituído por cinco sarcófagos rupestres, uma sepultura rupestre geminada, um marco de demarcação da antiga Ordem Militar e Religiosa de Malta e mais de 90 ortostatos ou pedras fincadas.