"Veremos se ainda há tempo para a política." Costa diz que saudade "não é forma de estar na vida"
O primeiro-ministro admitiu que terá saudades após deixar a liderança do Governo e espera pelas decisões dos casos judiciais para traçar ou não uma nova etapa na política.
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O primeiro-ministro afirmou esta quinta-feira que vai aguardar que a justiça "cumpra a sua missão" no inquérito que o envolve e que, depois disso, logo se verá se ainda haverá tempo para voltar à vida política.
António Costa fez estas declarações na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, à entrada para a sessão de lançamento da reedição do livro "Portugal Amordaçado", de Mário Soares, em que também está presente o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
Questionado sobre se, tal como Mário Soares, a quem foi diagnosticada morte política e depois foi eleito em 1986 Presidente da República, também voltará a ocupar um destacado cargo na vida pública, o líder do executivo voltou a ligar o seu futuro político à conclusão de um inquérito judicial que o envolve e que corre neste momento no Supremo Tribunal de Justiça.
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O primeiro-ministro começou por apontar que essa circunstância que ocorreu com o primeiro líder e fundador do PS "acontece muitas vezes na vida política". Depois, falou sobre a sua atual situação e o seu eventual futuro político.
"Relativamente a isso tomei a atitude que se deve tomar, quando é suscitado um problema de natureza judicial. E, portanto, aguardemos simplesmente que a justiça cumpra a sua missão. Quando a cumprir, logo veremos se ainda há tempo para a política. Logo veremos nessa altura se ainda há tempo para a política", declarou.
Perante os jornalistas, a poucas horas de o Presidente da República assinar o decreto que vai demitir formalmente o seu Governo, António Costa referiu que o seu executivo "vai-se manter naturalmente em funções até haver um novo na sequência das eleições do dia 10 de março".
"Portanto, ainda temos muito trabalho e muitos dias de trabalho pela frente. Havemos de ter tempo de nos despedir. Não vale a pena estarem ansiosos hoje", declarou aos jornalistas.
Interrogado se ficaram muitas coisas por fazer por parte do seu executivo, respondeu que "fica sempre seguramente alguma coisa por fazer", mas observou que "ainda há muita coisa para fazer até final de março".
"Hoje, o tema não sou eu, é o doutor Mário Soares. Portanto, deixemos isso para o momento próprio", acrescentou.
Mais cedo, no Porto, o primeiro-ministro admitiu que vai ter saudades após deixar a liderança do Governo: "Eu acho que a saudade é uma palavra original do português, é bom inspiradora para a lírica, para a canção. Não é uma boa forma de estar na vida. E, como eu disse ao padre Lino Maia, sempre que tiver saudade é só pegar no telefone e vamos tomar um café (...) Todos os seres humanos têm emoções. Cada um vive as emoções como sabe ou como pode. Eu fui educado a que as emoções vivam connosco próprios."
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António Costa será um dos oradores na sessão de apresentação de uma edição revista e ampliada do livro "Portugal Amordaçado - Depoimento sobre os anos do fascismo", de Mário Soares, no dia em que o antigo Presidente da República completaria 99 anos de idade.
Esta sessão antecede nalgumas horas a formalização da demissão do Governo, que ficará limitado a atos de gestão, decreto que o Presidente da República indicou que iria assinar hoje à noite.