Viaturas de bombeiros continuam paradas à espera de inspeção após acidente em Odemira
Em declarações à TSF, o comandante dos bombeiros de Odemira confessa uma certa "revolta" perante o silêncio dos políticos, que sem a presença das câmaras de televisão, nunca mais se "preocuparam em saber qual o estado de saúde dos sobreviventes" do acidente que matou um elemento da corporação
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Várias corporações de bombeiros confirmam à TSF que os carros que firam em "suspensão operacional", depois do acidente com a viatura dos bombeiros de Odemira, continuam parados à espera de inspeção.
Os bombeiros de Mação, Tomar e Ourém garantem à TSF que ainda não foi feita qualquer inspeção aos carros que pertencem ao lote do veículo dos bombeiros de Odemira envolvido num acidente, em janeiro de 2025, e que foram retirados de circulação por ordem da ministra da Administração Interna, para que fossem verificadas as condições de segurança. Em causa estão 81 viaturas, designadamente autotanques e viaturas florestais, adquiridas no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência e entregues pela Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC).
Nesta altura, ainda se aguarda a conclusão do inquérito ao acidente. Entre as corporações contactadas pela TSF, apenas o comandante dos bombeiros voluntários de Ourém aceitou gravar as declarações. Guilherme Isidro garante que a única ordem que tem da ANEPC é para manter o carro parado.
"Em relação à viatura, desde a altura em que foi restringido a sua utilização, e até ao momento, não tivemos qualquer comunicação da ANEPC. Estamos a aguardar que nos sejam dadas indicações: se o carro tem de ir a alguma inspeção, se o carro tem autorização para circular ou não", adianta.
No caso dos bombeiros de Odemira, a situação é diferente. O carro sinistrado, num acidente que causou a morte a um elemento da corporação, ficou inoperacional e à guarda do Ministério Público. Luís Oliveira, comandante dos bombeiros de Odemira, confirma que os veículos desse lote continuam parados, lembrando que a época de combate aos fogos não tarda. Diz, contudo, "desconhecer" se já foi ou não realizada uma inspeção ao veículo sinistrado.
"Foram tirados de serviço e até agora ainda se mantêm na mesma situação. Amanhã dá-se início ao dispositivo de combate a incêndios de 2025", sublinha.
Luís Oliveira aproveita a ocasião para confessar uma certa "revolta" perante o silêncio dos políticos, que sem a presença das câmaras de televisão, nunca mais se "preocuparam em saber qual o estado de saúde dos sobreviventes".
"É uma situação que me revolta. Tendo em conta a situação do acidente, acabamos por perder um dos nossos operacionais, o Dinis Conceição. E, depois, os políticos fizeram no funeral do Dinis Conceição um desfile mediático. (...) Acabou o show mediático, deixaram de ter o foco das câmaras de televisão, automaticamente mais ninguém se preocupou se os sobreviventes estão bem, se estão mal, se precisam de alguma coisa, se os bombeiros de Odemira precisam de alguma coisa. Nunca mais ninguém se preocupou com os bombeiros de Odemira, o que é triste", denuncia.
O comandante acredita que esta situação comprova que os bombeiros ainda são vistos como "carne para canhão" e que apenas são lembrados quando "precisam" deles.
"Esteve uma comitiva política a agitar o corpo de bombeiros, o discurso foi todo muito bonito enquanto eles gostaram de ouvir. Quando falaram do acidente e eu tive de responder desta mesma forma, não gostaram", aponta.
A TSF continua à espera de esclarecimentos do Ministério da Administração Interna e da ANEPC.
