"Vidas suspensas." Investigadores manifestam-se em Aveiro contra a precariedade no setor
O presidente do sindicato, José Moreira, aponta à TSF a precariedade como o mais grave problema a afetar a ciência e o ensino superior em Portugal.
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Um grupo de investigadores de várias plataformas do setor do ensino superior concentrou-se, esta quarta-feira de manhã em Aveiro, com o objetivo de, mais uma vez, chamar a atenção para a precariedade na ciência. Arrancou às 8h30, aproveitando a abertura do Encontro Ciência, um congresso de divulgação e promoção do conhecimento científico.
O presidente do Sindicato Nacional do Ensino Superior, José Moreira, aponta à TSF a precariedade como o mais grave problema a afetar a ciência e o ensino superior em Portugal.
"Neste momento temos, sem correr o risco de exagerar, seguramente mais de 80% dos investigadores com vínculos de trabalho precários, com o problema de estes vínculos de trabalho precários se arrastarem, em muitos casos, a prazos que vão até 20 anos e mais de 20 anos. Por trás deste número impressionante de 80% existe o Romeu, a Filomena e a Carla, que têm as suas vidas precárias, as vidas estão suspensas, ou seja, são pessoas que têm direitos, enquanto trabalhadores, que são mínimos. A nossa reivindicação é que é necessário resolver esta questão. Não é razoável termos um sistema em que 80% dos trabalhadores são precários", explicou José Moreira.
O responsável admite que a luta dos investigadores pode escalar, até porque muitos atingiram o limite.
"Muitas já atingiram o seu limite, portanto estão prestes a soçobrar. O que é que isto quer dizer? Quer dizer que algumas estão prestes a ter ainda mais graves problemas de saúde mental e algumas terem de meter baixa, que já vai acontecendo, ou a desistir desta atividade profissional e procurar outra onde tenham futuro. Do ponto de vista institucional, estas instituições também vão começar a aproximar-se da rutura, porque no momento em que os seus profissionais começam a entrar em rotura, as instituições onde eles trabalham também vão entrar em rutura. O que queremos neste momento é chamar a atenção, mas mais do que isso queremos que sejam dados passos significativos para resolver este problema. Senão obviamente que as formas de luta, como se costuma dizer, irão seguramente escalar, porque esta situação é completamente insustentável para os profissionais", acrescentou à TSF o presidente do sindicato.
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Nos cartazes, lia-se "Queremos excelência, tratem-nos com decência" ou "Precariedade mata a ciência". Os manifestantes reclamam que sejam encontrados "mecanismos" de transferência de verbas para as universidades para que estas possam integrar os investigadores na carreira e dar-lhes "um contrato estável".
Promovido pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, em colaboração com a Ciência Viva e a Universidade de Aveiro, o Encontro Ciência 2023, que acontece pela primeira vez fora de Lisboa, decorre de 5 até 7 de julho, com o tema "Ciência e Oceano para além do horizonte".
Além de António Costa, o encontro, que reúne peritos e investigadores de diferentes áreas científicas, conta com a presença dos ministros da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, do Ambiente e da Ação Climática, da Economia e do Mar e da Agricultura e Alimentação e será encerrado pelo Presidente da República.