Violência contra crianças e jovens aumenta: APAV está "preocupada" e alerta que maioria "foi vítima dentro de casa"
Em declarações à TSF, Carla Ferreira, gestora da rede da APAV, lamenta que "mais de 40% destas crianças" tenham sido "vítimas do pai e da mãe, que devem ser figuras protetoras no seu desenvolvimento"
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A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) confessa "preocupação" perante o aumento da violência contra criança e jovens: no ano passado, a organização recebeu 3424 pedidos de apoio de crianças e jovens, uma subida de 0,7 pontos percentuais, em comparação com 2023.
Os dados divulgados esta sexta-feira, na véspera do Dia Europeu de Apoio à Vítima, que se assinala no sábado, revelam que, em média, há 66 crianças e jovens vítimas de violência por semana. Isto significa que cerca de nove são atacadas por dia.
Carla Ferreira, gestora da rede da APAV, que apoia crianças vítimas de violência sexual, destaca um ponto preocupante neste tipo de violência.
"As crianças e jovens que tiveram o apoio da APAV, a maior parte delas foi vítima dentro de casa. Só isso deve logo merecer a nossa preocupação e atenção", alerta, em declarações à TSF.
Das crianças e jovens vítimas de violência, quase 60% eram do sexo feminino e a média de idades é de dez anos. Em 42,3% dos casos, o agressor foi o pai ou a mãe.
"Se virmos os dados que apresentamos, mais de 40% destas crianças vítimas foi vítima precisamente do pai e da mãe, que devem ser figuras protetoras no seu desenvolvimento", aponta, sublinhando ainda que este tipo de violência está "muitas vezes escondida e é sub-reportada".
Uma parte considerável das vítimas sofreu crimes de natureza sexuais: em 64,5% dos casos, o agressor é homem. Também na maioria das vezes, trata-se do pai do menor. A gestora explica que a associação, quando consegue chegar junto destas crianças e jovens, presta "apoio de natureza psicológica", mas também procura acompanhar diligências no Tribunal, para que estas se possam sentir "mais confortáveis com esse momento".
Admite, contudo, que a APAV nem sempre consegue dar apoio a todos os casos, pelo que alguns casos têm de ser reencaminhados, nomeadamente para as polícias, tribunais ou comissões de proteção de crianças e jovens, "no sentido de se salvaguardar o seu bem-estar".
O Porto é o distrito com mais queixas de crianças e jovens, ao qual se juntam Santarém, Aveiro, Coimbra e Vila Real. Os dados da APAV são revelados na véspera do Dia europeu da vítima de crime, que é assinalado este sábado.