A Junta de Freguesia de Santa Maria Maior organiza sessão para “pôr as pessoas a falar” sobre o clima de insegurança. Há relatos de agressões, assaltos, homicídios e consumo de droga em plena luz do dia. À TSF, autarca afasta qualquer relação entre criminalidade e imigração
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“Estado de alerta.” É desta forma que a Junta de Freguesia de Santa Maria Maior retrata o clima de insegurança que se vive nas ruas de uma das zonas mais antigas da cidade de Lisboa. A junta organiza esta quinta-feira uma sessão pública, no Hotel Mundial, para denunciar os “assaltos com recurso a armas brancas e de fogo, vandalismo nas ruas e nos edifícios, ocupações ilegais de imóveis, tráfico e consumo de droga na via pública, agressões, violações e homicídios” que têm vindo a repetir-se, sobretudo, na Mouraria.
“Estamos a passar por momentos de grande dificuldade e de muita intranquilidade por parte das pessoas, sobretudo as pessoas mais débeis, mais desfavorecidas, pessoas de mais idade, mas também famílias com crianças e atinge todos os setores, desde as classes mais baixas até à classe média”, revela Miguel Coelho à TSF.
O autarca garante que "a Junta de Freguesia" é alertada constantemente sobre o aumento da criminalidade, por relatos pessoais ou por e-mails. “Atingiu o limite”, afirma Miguel Coelho. “As pessoas com mais idade estão alarmadas e acantonadas em casa, restaurantes quase a entrar em falência, em grande dificuldade económica porque as pessoas têm medo de sair à noite porque são assaltadas”, alerta o presidente da Junta, sublinhando que “há gangs de tráfico de droga instalados no território que impõe as suas regras e as suas leis”.
Com a descrição deste cenário, Miguel Coelho deixa críticas ao executivo da Câmara de Lisboa, liderado por Carlos Moedas e à forma como está planeado o policiamento. “Não há efetivos no quadro das polícias suficientes para tudo, mas as polícias têm de fazer uma interpretação do território porque há zonas mais sensíveis do que outras e Santa Maria Maior, em particular esta zona, deveria ser considerada de particular atenção, presença e incidência.”
O autarca salienta ainda que este aumento da criminalidade, em plena luz do dia, com consequências para residentes e para o tecido económico local, não está relacionado com o crescimento da imigração na Mouraria. “O problema não é étnico, de raça, de religião. Claro que há indivíduos criminosos de pele escura, de pele branca, não é essa questão. Muitos indianos vêm ter comigo a queixarem-se, que também são vítimas de assaltos, também têm filhos, têm seringas à porta deles. É um erro colocar esta questão na perspetiva da imigração porque não é verdade”, conclui.
Falta de agentes
A Câmara de Lisboa admite, em resposta à TSF, que faltam agentes da Polícia Municipal nas ruas da capital. A autarquia lembra que, até agora, chegaram apenas 25 dos 200 agentes pedidos ao Governo. "A CML tem insistido, desde o primeiro dia, na necessidade de a Polícia Municipal de Lisboa ser reforçada com mais agentes – tendo até ao momento chegado apenas 25 dos 200 elementos que têm vindo a ser pedidos – e também de haver mais agentes da PSP nas ruas da cidade", lê-se na nota.
A Câmara de Lisboa, liderada pelo social-democrata, Carlos Moedas, reforça ainda que, desde o primeiro dia do atual mandato, a "segurança tem sido prioridade", sublinhando que o presidente já se reuniu com a ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, para discutir o assunto.
A autarquia reforça ainda que tem vindo a trabalhar em várias medidas, como "a videoproteção, reforço da fiscalização por parte da Polícia Municipal e no projeto de abertura de uma esquadra de policiamento comunitário, na Praça da Alegria, na Baixa de Lisboa".
A TSF pediu esclarecimentos ao gabinete da ministra da Administração Interna, mas ainda não obteve resposta.