Dois séculos depois das primeiras, as repúblicas de Coimbra mantêm-se, mas estão ameaçadas. A situação tem vindo a agravar-se desde os finais de 2012, altura em que entrou em vigor o NRAU, o Novo Regime do Arrendamento Urbano.
Corpo do artigo
TSF\audio\2018\06\noticias\14\vivaarepublica14
No passado dia 7 de junho os estudantes da República Farol das Ilhas, que até estava classificada como de interesse municipal, receberam ordem de despejo, que se efetivou no próprio dia.
Por um lado: Coimbra património Mundial da Unesco. Turismo a crescer nos últimos anos. Especulação imobiliária cada vez maior. Por outro: repúblicas com história, casas de estudantes em autogestão, com dezenas de anos, algumas até centenas. A junção de dois mundos está difícil de concretizar.
A fusão destes dois mundos está a resultar no aumento das rendas, na especulação imobiliária e em situações de despejo. Comprar os edifícios é a melhor solução, mas também a mais dura de concretizar, como refere Rafael Machado, o repúblico mais antigo da Fantasmas.
Noutros tempos, e com a ajuda da autarquia a república dos Cágados conseguiu comprar o próprio edifício. Também a República do Bot"aBaixo, onde andou o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, chegou a ser intervencionada pela autarquia com obras coercivas, e por isso tem a continuidade praticamente garantida. No entanto, o mesmo não aconteceu com a república da Praça, que acabou despejada em 2015.
O repúblico Gonçalo Quitério defende que a melhor solução passa pela compra dos edifícios pelos próprios estudantes, tal como fez a República da Praça. Para ganhar tempo, é preciso que a autarquia reconheça as repúblicas como Património de Interesse Municipal, agora em 2018, quando já em 2012 foram incluídas na candidatura da Universidade, a Alta e a Sofia a património mundial da UNESCO.
Manuel Machado, presidente da autarquia de Coimbra, diz que está a fazer o que está ao seu alcance, mas que tem tudo de ser estudado caso a caso.
A Câmara de Coimbra já reconheceu como Património de Interesse Municipal as repúblicas dos Fantasmas, Rap"o Taxo e Farol das Ilhas. Três das atuais 25 repúblicas que existem na cidade dos estudantes. Contudo, já nem isso impediu o recente despejo dos estudantes da Farol das Ilhas.
As repúblicas de Coimbra têm uma forte ligação às crises académicas, sobretudo de 1969 e à oposição ao Estado Novo. Casas de estudantes com uma identidade que atravessa várias gerações e que agora se veem ameaçadas pela especulação imobiliária.