Atualmente estão a construir mobiliário urbano para uma sala de aula e bibliotecas ao livre, com materiais reciclados.
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A freguesia de Darque, em Viana do Castelo, tem ao seu serviço um grupo de voluntários que trabalha para o bem comum.
O elemento mais novo tem 60 anos, e há gente de vários ofícios. Reaproveitam madeiras e outros materiais, alguns deles doados, e principalmente ao sábado, vestem a pele de obreiros de Darque. Constroem mobiliário urbano, casotas para cães e gatos errantes, limpam vegetação e lixo, plantam árvores de fruto e até criam novas zonas de lazer. Fazem de tudo um pouco, apoiando a junta de freguesia. Por estes dias, estão a trabalhar em dois projetos: uma sala de aula e bibliotecas ao livre.
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"Um tem a ver com uma ideia da diretora da escola do Cabedelo que se lembrou que queria mobiliário para fazer uma sala de aula ao ar livre, que depois vai ser completada, com a colocação de um quadro, daqueles à moda antiga, de lousa e giz. E outro é um projeto de bibliotecas que vamos colocar em vários sítios, nomeadamente, num que chamamos jardim da leitura. Vamos transformar frigoríficos [velhos] em estantes para livros", conta o tesoureiro da junta, António Pinto, acrescentando que não é a primeira vez que o grupo de voluntários trabalha para escolas de Darque. "Na escola da Senhora da Oliveira, já lá tem a casinha das bonecas, a cozinha de lama e as mesas de piquenique, também construção dos voluntários."
Lápis atrás da orelha, Manuel Torres, de 77 anos, antigo emigrante na Alemanha, onde trabalhou na construção civil e como operário fabril, é "o homem dos sete ofícios". Mede, corta e martela sem parar pregos na madeira, como um verdadeiro carpinteiro. Ocupa o tempo com trabalhos agrícolas em casa e como voluntário da freguesia.
"Quando posso venho dar aqui uma ajuda. É sempre útil. O voluntariado é a custo zero", afirma Manuel. Nas suas mãos, o martelo e as outras ferramentas não param, na criação de mesas para a sala de aula ao ar livre.
"Se for à zona ribeirinha de Darque, está tudo cheio destas mesas. As da parte toda do rio, foram feitas pelos voluntários", conta Júlio Sousa, de 71 anos, que trabalhou como eletrotécnico nos navios da Galp, é membro do grupo de voluntariado de Darque, desde que este foi formado há cerca de cinco anos. Comenta que é o espírito comunitário que move os voluntários. "Penso que é caso único. Antigamente, quando era miúdo, havia [o espírito comunitário]. Aqui em Darque foi sempre assim. Sempre gostaram de ajudar, mas a partir de determinada altura começou a descambar", considera, acrescentando que o convívio também faz parte da atividade do grupo a que pertence.
"Juntamo-nos no monte do Galeão e comemos lá uns frangos assados. Muitas vezes, junta-se família. O presidente da junta está sempre. É o primeiro a dar o exemplo. Está em tudo. Faz a convocatória à sexta-feira", conta Júlio.
O autarca Augusto Silva afirma que assim dá gosto liderar uma junta de freguesia.
"Assim não há grandes fases de desmotivação. Realmente, é aliciante ter sempre pessoas disponíveis para colaborar com o executivo e muitas vezes até a incentivares e a darem ideias. E não é só esta gente, a comunidade escolar, quer o corpo docente, quer o não docente das escolas, também abraçaram estes projetos e ideias. Por vezes, torna-se difícil responder a todos", destaca o autarca Augusto Silva (CDU), garantindo que o movimento de voluntariado em Darque, vai além da política. "O grande exemplo é a festa do Avante, que muita gente pensa que só são comunistas que fazem, mas muito bem estaria o PCP se fosse uma festa de comunistas e para comunistas. São milhares de pessoas que se organizam e vão para lá voluntariamente montar e desmontar. Depois muita dessa gente transporta esse espírito para as freguesias", comenta, concluindo que o grupo de voluntários, que durante a pandemia deu apoio à população, tem vindo a crescer com "gente de todos os quadrantes".