A crónica diária dos repórteres TSF que acompanham os candidatos à Presidência da República numa campanha eleitoral em tempo de pandemia.
Corpo do artigo
Estão os dois encostados ao muro do porto de pesca de Portimão e destacam-se dos simpatizantes do Chega. Ambos rondam os 80 anos de idade. Ela, mais alta, faladora, ele com uma camisa à pescador.
"Sabe, menina, antes da pandemia costumava ir todos os dias ao mar", confessa. Conta-me que ia mariscar quando a maré baixava. Era uma forma de ganhar mais algum dinheiro para engrossar uma magra reforma. Esclarecem-me que, apesar de viverem ambos no Algarve, são alentejanos.
"Trabalhei muito no campo e tinha 8 irmãos. Passei muita fome. A minha mãe ou fazia açorda ou grão para o jantar. Não dava para fazer as duas coisas", conta-me a idosa. Ganha uma reforma de 333 euros e 74 cêntimos. "O que vale é a reforma do meu marido que já faleceu".
Ao seu lado, depois de 53 anos de casamento, tem agora este homem que lhe faz companhia. "Mas nunca vou esquecer o meu marido e pai dos meus filhos", confessa. Fala dos tempos do Alentejo, do tempo em que o seu pai ouvia às escondidas a rádio Moscovo.
"Não sobreviveu para ver o 25 de Abril", lamenta. Então porque foi até ali para ver o candidato e líder do Chega? "Porque me informaram no supermercado que ele vinha a Portimão e queria vê-lo de perto. Não concordo nada com o que diz. O meu voto é sempre o mesmo desde o 25 de Abril, sempre", garante.
Quando André Ventura passa por ela e faz adeus, a idosa olha-o e nem faz um esforço para acenar... O seu voto está decidido há muito.