Zero pede encerramento do aeroporto de Lisboa. Ruído custa nove mil milhões de euros desde 2015
Pedro Nunes, da associação ambientalista Zero, explica que o impacto do ruído custa 1300 milhões de euros por ano. "São números astronómicos", diz.
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A associação ambientalista Zero pede o encerramento urgente do Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, que, de 2015 até agora, apresenta um prejuízo acumulado da exposição ao ruído na saúde das pessoas de quase nove mil milhões de euros.
Foram avaliadas três componentes: o custo do ruído em termos de saúde pública, de perda de produtividade e o impacto na subvalorização do património, como explica Pedro Nunes, da Zero, em declarações à TSF.
"Estamos a falar de um montante que é cerca de 1300 milhões de euros por ano, para um ano típico de operação do aeroporto, ou seja, estamos a falar de números astronómicos. Estes 9000 milhões de euros seriam o suficiente para construir dois novos aeroportos com uma afetação mínima da saúde pública", sublinha.
Pedro Nunes diz que esta é uma epidemia silenciosa e com graves consequências na saúde.
"Dos cerca de 1300 milhões de euros, a fatia leonina destes custos tem a ver com a saúde pública. Estamos a falar de aumento dos níveis de stress nas pessoas que são afetadas, de problemas cardiovasculares, hipertensão, doença cardíaca. Isto também é bastante importante em termos das crianças em perturbação cognitiva e depois na produtividade escolar e no trabalho. Nós calculamos que este impacto do ruído orça em cerca de 45 milhões de euros por ano, uma vez que estas pessoas que trabalham ou residem nestas áreas afetadas pelo ruído são mais propensas à distração, têm uma diminuição de concentração e fadiga. Depois, temos um impacto no mercado imobiliário e isso, por ano, custa a estas cidades cerca de 177 milhões de euros", explica o ambientalista.
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Em 2006, na avaliação de impacto ambiental, foi indicado o encerramento do aeroporto de Lisboa e a Zero defende a suspensão de atividade no imediato.
"A recomendação é este aeroporto fechar o mais rapidamente possível. Nós estamos, neste momento, num processo de avaliação ambiental estratégica que está a decorrer e já estará mesmo a terminar. Nós vamos ter em breve conhecimento de quais são as recomendações por parte da Comissão Técnica Independente, que vai elencar uma série de soluções para o novo aeroporto de Lisboa. Estamos em crer que, se o trabalho for feito com responsabilidade, as soluções preferidas serão aquelas que implicam a desativação do aeroporto da Portela. Depois, esperamos que a decisão política vá no sentido de o aeroporto da Portela ser desativado o mais rapidamente possível e seja depois relocalizado numa zona que não afete a saúde pública desta forma", argumenta.
"A Zero espera que, na sequência da Avaliação Ambiental Estratégica em curso, se inicie a contagem decrescente para o encerramento urgente e definitivo do Aeroporto Humberto Delgado, acabando de vez com os seus custos sociais incomportáveis", afirma a associação num comunicado esta segunda-feira divulgado.
De acordo com a organização não governamental (ONG), esses custos "dariam para pagar, pelo menos, dois novos aeroportos em local adequado com o menor impacto possível sobre a saúde humana".
"Os custos aproximados acumulados neste período de 07 anos e 10 meses, a preços correntes, são superiores a 8.750 milhões de euros, o que significa, excluindo os anos de pandemia em que a atividade aeroportuária foi atípica, que estamos perante um prejuízo de cerca de 1300 milhões de euros por ano, o que equivale a mais de 3,5 milhões de euros por dia", indica.
A ONG adianta que o excesso de ruído tem impacto em 380.000 habitantes de Lisboa, Loures e Almada.
"A exposição prolongada ao ruído de aviões nas áreas afetadas da grande Lisboa tem várias consequências adversas na saúde, desde logo distúrbios do sono, interferindo na qualidade e na quantidade de descanso necessário para um funcionamento saudável do organismo", observa a Zero.
Também faz aumentar os níveis de stress e contribui para problemas cardiovasculares, como hipertensão e doenças cardíacas, bem como prejudica a saúde mental, podendo levar a distúrbios de ansiedade e depressão.
A Zero recorda ainda que o ruído dos aviões tem impacto no mercado imobiliário de Lisboa e Loures.
"(...) Imóveis próximos do aeroporto ou debaixo da rota de voos têm em geral preços mais baixos em comparação com as restantes áreas da cidade. Esta subvalorização do património imobiliário terá custado 167 milhões de euros em 2019", explica.
Na análise da Zero, o custo social foi quantificado através de uma metodologia presente em estudos internacionais e que se auxilia em "relações dose-efeito" da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Foram quantificados os custos associados às perturbações do sono, incomodidade, cardiopatia isquémica, hipertensão, perda de produtividade e subvalorização do património imobiliário -- estes dois últimos fatores não foram avaliados pelo grupo de trabalho para o estudo e avaliação do tráfego noturno.
"A Zero estima que os custos do ruído do Aeroporto Humberto Delgado, quando calculados ao abrigo das recomendações da OMS, saiam significativamente agravados face aos custos apurados, de acordo com a legislação nacional", frisou.
A associação lembra que, quando o aeroporto encerrar, "somará várias dezenas de milhões de euros em prejuízo irrecuperável para os cidadãos afetados".