Zero protesta em frente ao BdP por taxas de juro mais baixas para renovação de edifícios
Os ambientalistas querem que o Banco de Portugal pressione o Banco Central Europeu para tornar a eficiência energética em mais do que uma teoria, uma prática real na casa dos portugueses.
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Vários elementos da Zero estão esta terça-feira junto à sede do Banco de Portugal (BdP), em Lisboa, para exigir medidas de apoio eficazes à renovação dos edifícios, através de taxas de juro mais baixas no acesso a empréstimos em prol da eficiência energética.
Os ambientalistas chegam com uma pergunta na algibeira: "O que é que a política monetária, o que é que a ação do Banco de Portugal e do Banco Central Europeu (BCE) tem que ver com o combate às alterações climáticas?" Na leitura deste grupo, não só em Portugal, mas também em toda a Europa - onde a mesma ação acontece a esta hora, está tudo ligado.
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Em Portugal, estima-se que mais de 600 pessoas vivam numa situação de pobreza energética severa. A ação desta manhã luta para que o regulador pressione o BCE a diminuir este valor através de medidas económicas.
Vestidos de casas, num tom amarelo florescente e cinzento, é possível ler "Estamos cheios de calor", "Temos frio", "Por isso renovem as nossas casas".
Francisco Ferreira, presidente da Associação Zero, em declarações à TSF, defende que "não faz sentido, no quadro da habitação, estar a construir mais edifícios". "Tem sentido, sim, reabilitar, renovar os edifícios existentes" e para isso, ressalva, é preciso que as famílias tenham "esse poder económico".
A associação considera que a banca deveria disponibilizar créditos mais baratos para este fim, concentrando-se à frente da sede do regulador para exigir taxas de juros mais baixas.
"Idealmente seria nós termos valores de 0, já que as taxas de juro também não estão assim tão elevadas. E os Governos têm aqui um papel absolutamente fundamental nestes apoios. Nós temos, através do fundo ambiental, por exemplo, em Portugal, alguns apoios, mas são poucos milhares de euros e nós temos um consumo muito elevado de energia por parte dos edifícios porque o isolamento não é apropriado, nem para o calor nem para o frio", explica.
O presidente da associação sublinha que 36% das emissões de dióxido de carbono estão "diretamente relacionadas com os edifícios", lembrando ainda que em Portugal 70% das habitações "não são eficientes".
Questionado sobre o conjunto de taxas que acabam por estar variáveis à subida e descida da Euribor, Francisco Ferreira defende que é preciso ir mais além.
"O que é facto é que nós temos de ter todo um mecanismo de facilitação do acesso a estes empréstimos de taxas de juro mais baixas. Mas uma das questões cruciais é que, eu próprio tenho na aquisição de habitação algumas facilidades, mas não tenho essas facilidades que deveriam ser iguais, pelo menos, no caso da reabilitação de edifícios", esclarece.
Francisco Ferreira explica que esse é o apelo da associação: que as famílias tenham incentivos para investir "a custos muito baixos" nos edifícios "onde já gastaram energias, onde já gastaram materiais".
Sobre a eventual contribuição desta medida para uma maior dependência dos portugueses em relação aos créditos, o ambientalista responde que alguns países já utilizaram as verbas do Plano de Recuperação e Resiliência, "como é o caso de Itália, para este tipo de iniciativas e os resultados foram extremamente positivos". Esta poderia ser uma medida a adotar pelo Estado português, "mas não foi essa a seleção que foi dada".
"E, portanto, as verbas que temos são muito limitadas para este tipo de esforço, de reabilitação e por isso mesmo este apelo é ao Banco de Portugal, mas de certa forma, alargado ao próprio Governo para ter uma intervenção neste domínio e não se preocupar tanto em ter mais e mais construções nas zonas periféricas", afirma.
Francisco Ferreira destaca ainda que esta ação, coordenada pela ONG Reclaim Finance, acontece em vários países europeus, pelo que espera que a mensagem "chegue a bom porto".
"Temos 35 mil assinaturas numa petição, o que não deixa de ser bastante significativo à escala europeia. E na Bélgica, onde também é a sede da União Europeia, e em França e noutros países, há inúmeras organizações que estão a fazer este apelo. Esperemos que chegue a bom porto", conclui.