Dia Mundial da Escrita à Mão: "Todos escrevemos", mas a caligrafia "exige arte"

A linguista Adriana Baptista acredita que a tecnologia está a afastar a escrita do manuscrito
Paula Dias/TSF
No dia dedicado à escrita à mão, procuramos saber o que a escrita pode dizer de nós e o que distingue a escrita normal da arte da caligrafia.
Inventada há mais de 3.500 na Suméria, será que a escrita à mão corre risco de desaparecer com o surgimento das novas tecnologias? Foi a pergunta que fizemos a uma linguista e ao decano dos calígrafos portugueses, José Braz.
A linguista Adriana Baptista acredita que a tecnologia está a afastar a escrita do manuscrito e teme que isso seja um problema para a aprendizagem de uma competência motora e criativa, como é a escrita à mão.
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Durante mais de 30 anos, a linguista deu aulas a futuros professores e educadores de infância e não acredita que a escrita à mão possa acabar, mas chama a atenção para os programas de primeiro ciclo que estão organizados em torno da digitalização. Adriana Baptista afirma que a escrita à mão de cada aluno pode mostrar características de personalidade.
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A linguista defende que a caligrafia é uma arte, está também relacionada com a capacidade motora de cada aluno e lembra que não é um dado adquirido. Aos pais é aconselhado "deixar as crianças escrever numa folha com os olhos vendados".
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Adriana Baptista alerta para possíveis mudanças na arte da tatuagem, já que inclui uma forte representação da caligrafia.
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A linguista considera que objetos com escrita à mão são mais valorizados e estimados porque estão relacionados com a memória, como é o caso das cartas manuscritas. "A forma como nos relacionamos com a narrativa ainda é invadida pela caligrafia", garante.
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Primeiro a escrita, depois a caligrafia. José Braz sublinha a diferença: escrever "à mão todos escrevemos", mas a caligrafia "exige arte e anos de dedicação".
Em Portugal é cada vez mais raro encontrar um calígrafo. José Braz é um dos últimos mestres e afirma que a escrita à mão é como uma impressão digital.
O calígrafo não vê o computador como uma ameaça. "Complementam-se na perfeição", garante José Braz. Esta é uma profissão rara e corre o risco de acabar, mas para que a arte não se esqueça, "um dia destes" o Mestre que ensinou quase todos os 100 calígrafos no ativo em Portugal vai terminar um manual de caligrafia.