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O presidente da Caetano Bus, José Ramos, revelou à TSF que a fábrica de autocarros verdes de Ovar vai ter de produzir hidrogénio para autoconsumo porque ainda não há combustível a ser produzido e distribuído em Portugal.
"É urgente uma estratégia para as infraestruturas de hidrogénio em Portugal", defende a Caetano Bus.
Ouça aqui a entrevista a José Ramos, presidente da Caetano Bus, pelo jornalista José Milheiro
José Ramos apoia a Estratégia Nacional para o Hidrogénio lançada pelo Governo, mas diz que falta a definição de um mapa e de um calendário para a rede de abastecimento. Por este motivo, a Caetano Bus teve de pôr mãos à obra e "adquirir um [posto de abastecimento] para a fábrica".
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"Por incrível que pareça, temos de ir abastecer a Espanha para depois fazermos os testes" e, em termos logísticos e de preço, ir buscar o hidrogénio a Espanha tem altos custos, por isso, era hora do Governo português tomar outra atitude, afirma.
Temos de ir abastecer a Espanha para depois fazermos os testes dos autocarros
"Deveria o Governo investir e incentivar. Assim como existe a rede de abastecimento dos carros elétricos, também houvesse uma equivalente para o hidrogénio", defende José Ramos.
O primeiro "posto de abastecimento vai estar situado em Ovar porque a linha de chassis de mobilidade verde vai estar instalada naquela cidade" e, além do posto de abastecimento para os testes dos autocarros, este projeto contempla ainda a passagem das fábricas em Portugal a 100% livres de carbono.
"Estamos a pensar fazer autoprodução com energia verde. As três fábricas em Portugal vão ser 100% limpas em termos de consumo da energia. Através de painéis fotovoltaicos, vamos, com essa energia [solar], produzir o hidrogénio que depois utilizaremos para os equipamentos das fábricas", explica.
A Caetano Bus já está a fornecer 23 autocarros para o serviço de transportes públicos urbanos em cidades da Alemanha, Espanha e de França e a aposta da empresa no hidrogénio representa um investimento de 9,2 milhões de euros.
OE2021
José Ramos é também o presidente da Toyota Caetano Portugal e da Associação do Comércio Automóvel de Portugal (ACAP), e é nessa qualidade que critica a discriminação feita no Orçamento do Estado aos híbridos convencionais, que passam a pagar mais imposto.
A fiscalidade automóvel no Orçamento do Estado "é tudo menos ambientalista. Nasceu com base numa proposta da Zero e que o PAN acolheu, mas aquilo que foi aprovado não foi nada da mensagem que foi passada pela Zero e pelo PAN. A mensagem que era passada era relativamente a alguns plugins e, na prática, aquilo que aconteceu foi que a proposta aprovada na Assembleia da Republica fez tudo menos isso" e agravou a fiscalidade dos automóveis híbridos convencionais, considera.
Um normativo que acarreta problemas técnicos porque, de acordo com José Ramos, "num híbrido convencional não pode ser medida a autonomia" das baterias. Por outro lado, este tipo de fiscalidade também não ajuda na renovação do parque automóvel nacional.
Brexit
A Caetano Bus tem 90% da produção de autocarros vendida no Reino Unido e, por isso, o Brexit tem preocupado a vida da empresa, embora José Ramos admita que passou um Natal mais descansado.
O acordo "tem de ser retificado pelos parlamentos, mas acreditamos que foi dado um grande passo, que pelo menos essa dor de cabeça não a vamos ter, e, mal esta pandemia termine, as coisas vão voltar à normalidade". O acordo para o Brexit no dia 24 de dezembro "foi uma boa prenda de Natal que nós tivemos".
Pandemia
José Ramos revela, na TSF, que, este ano, a Caetano Bus vai fazer 440 autocarros em vez dos 700 que estavam previstos, porque os concursos pararam em toda a Europa.
A empresa produz autocarros de turismo, autocarros para aeroportos e autocarros urbanos.
Abrir concursos de transportes urbanos poderia ser uma janela de oportunidade
"No turismo, deixámos de ter qualquer encomenda a partir de março e, até agora, estivemos a trabalhar com a carteira que tínhamos. No caso dos aeroportos, sucedeu o mesmo. No caso dos urbanos, a situação é diferente: a carteira de encomendas era maior, mas acontece que o Governo e as empresas públicas tinham perspetivas, devido à descarbonização, de abrir concursos para autocarros urbanos - mas, até agora, isso tem estado quase parado -, o que poderia ser uma janela de oportunidade para nós minimizarmos o decréscimo que temos nos autocarros de turismo", assinala José Ramos.
O gestor critica os concursos em Portugal porque têm um "problema grave" ao promoverem a compra pelos operadores de veículos usados, transformando Portugal "no caixote do lixo dos autocarros da Europa" com uma idade média de 15 anos da frota de pesados de passageiros.