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Uma transmontana de Chaves, professora de informática em Braga, começou há oito anos a fazer compotas. Sozinha, já tem mais de 60 produtos e a sua marca "GROSELHA - ESPIM" está hoje em vários mercados mundiais.
No início da pandemia decidiu ajudar os combatentes da linha da frente. Médicos, enfermeiros e pessoal auxiliar de vários hospitais portugueses já receberam e já provaram as suas compotas solidárias.
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O "click" deu-se em 2009 com uma mistura de explicações de informática, uma amiga e uma abóbora transmontana. "Eu dava-lhe explicações de informática e almoçava sempre em casa dela. Um dia perguntou-me porque é que não trazia uma abóbora de casa dos meus pais. Trouxe a abóbora e umas nozes partidas. Fizemos o doce de abóbora com nozes e ficou um espetáculo. Depois comecei a experimentar, aqui e ali, mas não levava a sério a atividade. Depois fui mãe e parei completamente", salienta a professora Arménia Rua.
Mas o bichinho das compotas ficou lá e em 2012 reapareceu. "Comecei a fazer compotas no mês de maio, por causa das cerejas, como estamos agora e lancei a marca a 13 de setembro de 2012". Mas não foi fácil chegar ao nome "Groselha-Espim. "Tentei vários frutos e até a castanha judia, (variedade de castanha muito famosa em Carrazedo de Montenegro, capital da Castanha, onde moram atualmente os pais de Arménia Rua) mas já havia alguma coisa com esse nome. Depois, num livro que tenho em casa havia um doce de groselha-espim. É uma variedade de groselha e achei piada ao pim".
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E vai daí que, num pim repentino, as compotas estavam à venda em vários mercados de Braga. Noutro pim chegaram à internet. Arménia Rua acrescenta que "comecei a divulgar os produtos nas redes sociais e, curiosamente, o Facebook é das coisas que mais alento me dá porque as pessoas começaram a dar-me feedback do que fazia e comecei a fazer várias combinações".
Combinações com diferentes produtos e sabores que não existiam no mercado. " Como cenoura e cardamomo, que ainda hoje vende bastante bem. Tem muita raspa de limão e laranja e é ácida e outra com kumquat e gengibre. kumquat é um citrino pequeno que parece enfeite de jardim mas come-se e é muito usado no gin".
Mas a grande parte das compotas e dos mais de 60 produtos que Arménia Rua tem são feitos de matéria-prima proveniente de Trás-os-Montes. " Moro em Braga. Vim para aqui estudar com 18 anos mas sou flaviense de alma e coração. A fruta vem dos meus pais e de pequenos agricultores locais que me fornecem, marmelos, maças, cerejas ou pêssegos porque trabalho muito com o pêssego maracotão e o sabor de lá de cima é outro", afirma.
Um sabor que dá vários paladares e que a professora de informática, também licenciada em matemática da computação, prepara sozinha em casa. " Sou multitasking. Enquanto estou no computador vou aos tachos, vou mexer a panela, volto para o computador, vejo a aula do miúdo que está em estudo do meio, hoje, amanhã é matemática. Estou sempre com um olho no gato e outro na sardinha. E é o dia todo, de manhã à noite, nisto! Cheguei a ter uma aula em que os meus alunos estavam a fazer um mini-teste online e eu disse-lhes: - esperem aí um bocadinho que eu vou ali mexer a penela".
Nestes oito anos as compotas da professora Arménia Rua têm sido um sucesso e os sabores da Groselha-Espim estão a espalhar-se pelo mundo. " Na Suécia, com mais expressividade na Holanda, em França, Paris, em Barcelona ou Macau".
E em Portugal continental, Açores e Madeira, as compotas da Groselha -Espim podem encontrar-se em várias lojas. A venda online é a mais utilizada pela empresária. Em março, a pandemia fez um plim no interior solidário de Arménia Rua e, desde então, as suas compotas têm chegado aos profissionais de saúde de vários hospitais portugueses.
"Ao São José, em Lisboa, ao São João e Santo António no Porto, a Coimbra, a Viana do Castelo, a Barcelos, a Famalicão. Aqui em Braga já foram vários serviços presenteados. Não são só médicos e enfermeiros mas também as pessoas das equipas de limpeza também têm direito a uma compota e ficam muito agradecidas", salienta.
Por causa da solidariedade há pessoas que lhe levam fruta, açúcar e frascos à entrada de casa, de borla, para que não pare de fazer as compotas solidárias. " Eu também digo sempre quanto mais dou mais ganho. E o prazer que estou a ter, o retorno, das pessoas que veem dar-me os parabéns porque gostaram da compota, gostaram do gesto, é gratificante. Tenho levado sorrisos e tenho sorrido também".
Um esforço com um sorriso que a doce Arménia Rua diz gostar de fazer. "Quem corre por gosto, cansa. Quando se diz que quem corre por gosto não cansa, é mentira. Nós cansamo-nos. A vantagem de quem faz as coisas por gosto é a de que, no dia seguinte, acorda com vontade de se cansar outra vez", termina a professora das compotas.
E assim, todos os dias a Groselha-Espim ganha vida.