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"O algoritmo não tem coração." É com esta frase que o presidente do Sindicato do Pessoal de Voo da Aviação Civil resume a lista de situações injustas que têm marcado o processo de rescisões em curso na TAP, avança o jornal Económico.
O problema principal é o critério estabelecido para definir o que é uma falta justificada ao trabalho. O algoritmo parece não saber e isso torna-se decisivo pois o absentismo é considerado - pela fórmula informática - como um dos fatores para indicar à TAP o nome de um empregado para uma possível rescisão.
Um dos exemplos dados pelo Jornal Económico é o de um trabalhador que perdeu o filho menor e um irmão nos incêndios de Pedrógão, em 2017. Este funcionário da TAP esteve algum tempo em recuperação e, qual não foi o seu espanto, esse período foi contabilizado como ausência. Por isso, ele chegou a ser chamado para uma das reuniões em que a empresa abre ao trabalhador a porta de saída.
Confrontado com a notícia, o líder da UGT, Carlos Silva, diz à TSF que esta "é uma notícia preocupante para o movimento sindical e, acima de tudo, para a democracia."
"Há aqui uma violação dos direitos de defesa dos trabalhadores quando os seus dados são transmitidos a uma empresa externa, uma consultora norte americana que não conhecemos de lado nenhum. Como é que podem avaliar aquilo que é o comportamento e a vida do trabalhador dentro da empresa?", questiona Carlos Silva.
O Secretário-geral da UGT quer que o Governo acabe de imediato com situações como estas, até porque pode abrir um precedente e servir de exemplo a outras empresas: "O ministro não pode fugir à responsabilidade de ter uma matéria sob as suas mãos que está a causar transtorno à vida de muitos trabalhadores"
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"Qualquer dia estamos com os algoritmos a dominar a vida das pessoas", remata.
Fonte oficial da TAP garantiu ao Jornal Económico que este caso concreto já foi resolvido, mas a lista continua: as faltas por motivos de saúde até três dias também estariam a ser contabilizadas pelo algoritmo. E quando se trata de um período curto desta dimensão - três dias - essa licença é concedida pela Unidade de Cuidados de Saúde da própria TAP.
Outro caso que está a preocupar a Comissão de Trabalhadores é que o algoritmo, criado pela consultora Boston Consulting Group, também avalia a produtividade de cada funcionário como critério para escolher os candidatos à rescisão. Há trabalhadores há 20 anos na TAP que estarão a ser chamados porque estará a ser considerada apenas a função que desempenham atualmente e não todas as posições que ocuparam antes.
O processo de rescisões da empresa termina esta sexta-feira.