Jovens votam pouco, mas manifestam-se "politicamente". Partidos usam mais novos "de forma instrumental"
Fundação Calouste Gulbenkian

Jovens votam pouco, mas manifestam-se "politicamente". Partidos usam mais novos "de forma instrumental"

Apesar de os jovens se afastarem cada vez mais da votação nas urnas, um estudo da fundação Calouste Gulbenkian conclui que "não estão alheados da vida política" e manifestam-se nas ruas e através da redes sociais. Em entrevista à TSF, os investigadores responsáveis pelo estudo aconselham os partidos políticos a reorganizar a comunicação, adequando as propostas ao interesse dos jovens.

Para Pedro Magalhães, Investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, há uma visão distorcida sobre os jovens, já que, atualmente, "imaginar os jovens como apáticos e desinteressados apenas porque tendem a votar menos, é uma visão muito limitativa do que é a participação e mobilização política".

O estudo confirma que os jovens "participam sistematicamente menos que os mais velhos" em atividades políticas "convencionais", como comícios ou congressos. Por outro lado, "algumas formas de participação política não-eleitoral têm aumentado ao longo do tempo", como explicam os investigadores.

"Os jovens interessam-se pelas questões políticas (em sentido amplo), mas não se reveem nos fóruns políticos convencionais. Este fenómeno é atribuído à desilusão com os atores políticos (a descredibilização da classe política é mencionada reiteradamente) e à sua incapacidade de motivar e mobilizar as gerações mais novas", alertam os investigadores.

Pedro Magalhães e Patrício Costa garantem, em entrevista à TSF, que os jovens não são apáticos em relação à política, "têm noção da importância do voto e do Parlamento", mas utilizam formas "não institucionais" para se manifestarem.

"Há outras formas que os jovens encontram para fazerem política, que não propriamente no voto, como as manifestações, assinar uma petição, ou até a questão do voluntariado", explica o investigador da Universidade do Minho Patrício Costa.

A crise de 2011, que levou milhares de portugueses para as ruas, em manifestações, influenciou "o positivamente processo de envolvimento cívico", assim como as crises seguintes. Os investigadores ressalvam, no entanto, que "os baixos níveis de participação não são apenas dos jovens portugueses".

Parlamento? "Mundo lento que não responde à urgência das causas"

Também Pedro Magalhães acrescenta que os jovens têm noção de que "o voto é importante, assim como a composição do Parlamento é decisiva". Ainda assim, "é um mundo demasiado lento que não responde à urgência de várias causas", ao contrário do associativismo que "é uma forma mais direta e imediata de obter resultados".

No relatório lê-se que os jovens entendem que "a política não está no Parlamento" e "a democracia não pode, nem deve acabar nas urnas", pelo que optam por iniciativas fora da atividade parlamentar: "Voto tende a não ser a experiência participativa mais marcante ou desafiadora nos percursos individuais", já que é considerado "limitado na sua influência".

"Os partidos políticos utilizam os jovens de uma forma instrumental, não dão oportunidade de visibilidade e, por vezes, não enfatizam os temas que interessam aos mais jovens", acrescenta Pedro Magalhães à TSF. O investigador lembra que temas como a educação, ambiente e a precariedade são primordiais.

Quotas: os jovens no Parlamento

Durante as eleições legislativas de janeiro, ao longo dos debates entre os líderes partidários, "é fácil constatar que os temas tiveram pouca importância". Os investigadores criticam ainda os poucos lugares que os partidos destinam aos jovens nas listas de candidatos para as legislativas, "sinal da incapacidade para incluir as visões da juventude".

"Uma das coisas que se começa a discutir em vários países, embora em Portugal ainda não se tenha chegado a essa discussão, são as quotas para jovens. Da mesma maneira que temos quotas nas listas para as mulheres, devemos assegurar a representação dos jovens no Parlamento", explica.

O estudo alerta que os jovens têm a perceção que a participação deles "é desvalorizada pela sociedade em geral" e pelos partidos políticos, vistos "como imaturos e pouco autónomos".

A estratégia de comunicação dos partidos "é inadequada para os mais jovens", com pouca presença nas redes sociais e com "desadequação das suas propostas".

Educação e rendimento são "protetor aos discursos populistas"

O estudo indica ainda que os jovens "são menos favoráveis a atitudes populistas", em comparação com a faixa etária dos 35 aos 60 anos. Na população, variáveis como "a educação, os rendimentos e a escolaridade dos pais" funcionam como "protetor aos discursos extremistas".

"A adoção de atitudes populistas é transversal, pelo menos no que concerne ao sexo, idade, posicionamento ideológico, mas não relativamente à escolaridade do próprio e dos pais, ao rendimento do agregado e aos níveis de eficácia política", lê-se no documento.

O estudo acrescenta que quem "se posiciona à direita reporta maior propensão para votar e quem se posiciona à esquerda maior propensão para as restantes formas de participação, especialmente as manifestações".

"Vários ativistas e alguns coletivos veem a necessidade de combater o populismo e o modo como põe em causa o futuro coletivo, especialmente o que ligam a extremismos de direita", esclarecem os investigadores.

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