"O senhor não gosta do PSD." O que disseram os críticos na cara de Rui Rio

Muitos ficaram em casa. Outros, poucos, foram até Guimarães para dizer na cara do líder o que pensam dele e da estratégia que tem para o PSD. Hugo Soares foi um deles. Entrou, disse o que tinha a dizer, virou as costas e foi embora.

Se alguém ainda tinha dúvidas, José Silvano, secretário-geral do PSD, tratou de as esclarecer logo no arranque do Conselho Nacional: sim, Hugo Soares foi excluído pela direção do partido das listas de candidatos a deputados às próximas legislativas. "Foi o único", repetiu várias vezes Silvano, que se justificou com as várias declarações públicas do ex-líder da bancada do PSD que por diversas vezes se mostrou em discordância com a estratégia da atual direção. E Hugo Soares fez jus ao título de crítico neste Conselho Nacional.

Apoiante desde a primeira hora de Luís Montenegro, o ainda deputado social-democrata chegou à quinta em Guimarães com duas mensagens bem decoradas.

A primeira é a de que o partido pode continuar a contar com ele, até porque Hugo Soares considera que tem "algumas qualidades no combate ao PS" e que esse combate vai continuar a ser feito, "nunca combatendo" o PSD. A segunda mensagem, era mais um aviso a Rui Rio do que outra coisa: "Venho dizer cara a cara o que eu penso sobre a situação interna do partido e sobre a análise da situação política nacional".

Se bem o pensou, melhor o fez. Lá dentro, já longe dos microfones da comunicação social, Hugo Soares apontou a Rui Rio e não largou mais. "Vim cá dizer que o senhor não gosta do partido", começou por afirmar, para logo a seguir explicar porquê. Hugo Soares acusou Rui Rio de não "respeitar a militância, as estruturas e a pluralidade" do PSD para além de "desrespeitar o grupo parlamentar e os deputados." O ex-líder parlamentar afirmou ainda que Rio não gosta do Partido Social Democrata "porque preferia um partido pequeno, sem representatividade, ao seu estilo" e de ser alguém que "escolhe os seus amigos em vez de respeitar a militância."

As lista de qualificativos e de acusações ao líder do PSD ainda só ia a meio. Hugo Soares lembrou a Rui Rio que ele não é o único a gostar do confronto, "mas eu sou bom a combater o PS e você é bom a fustigar o PSD". Soares lembrou ainda que, se Rio tem toda a liberdade para ir "com quem quer a eleições, à liberdade corresponde a responsabilidade total."

O ainda deputado social-democrata, excluído da lista de Braga às próximas eleições, garante que "carrega essa medalha ao peito porque é um veto cheio de futuro" e terminou com um pedido ao presidente do partido: "que a raiva que tem ao PSD a coloque contra o PS para fazer jus às suas palavras de que perde sondagens mas ganha eleições."

Depois deste discurso, virou as costas e abandonou a sala.

Críticos, mas pouco

Se nas últimas semanas não faltaram vozes críticas contra a direção nacional do partido, no Conselho Nacional, onde essas vozes se podiam ter feito ouvir, foram poucos os que se levantaram para mostrar ao líder a sua discordância. Uns porque nem sequer foram a Guimarães, outros porque preferiram ficar calados. Ainda assim, cá fora aos jornalistas ou lá dentro cara a cara com Rui Rio, houve quem tenha dito, se não tudo o que pensa, pelo menos parte.

Na conferência de imprensa José Silvano assumiu rutura apenas com duas distritais, mas a lista dos descontentes com as listas é maior. É o caso de um conselheiro de Leiria que considerou que esta é "a pior lista de sempre no distrito". Mais a sul, houve quem questionasse a exclusão de Miguel Pinto Luz em Lisboa, "um quadro do partido, dos mais bem preparados".

Setúbal, já se sabia, era das distritais mais descontentes, Bruno Vitorino, líder desta estrutura, confirmou à TSF, logo à entrada, que Setúbal ia votar contra as listas. "Não compreendemos o porquê destes vetos, o porquê de vetarem um conjunto de outros militantes, entre os quais eu também me incluía, não compreendemos o porquê de uma imposição de um primeiro nome e depois de um segundo nome, contrariando tudo o que são as regras do PSD", explicou o dirigente social-democrata.

Bruno Vitorino prometia dizer tudo isto ao líder do partido, "olhos nos olhos", até porque "ele não teve connosco qualquer tipo de reunião e só hoje terei essa oportunidade". Quando questionado sobre como vai ser a campanha, o líder da distrital de Setúbal foi perentório: "Sou militante do PSD, continuo a ser dirigente do PSD, quero ouvir os meus pares, mas enquanto for militante do PSD estarei disponível para votar no PSD. Não votarei no Rui Rio, mas votarei no PSD."

Da promessa ao ato, Bruno Vitorino, "olhos nos olhos", questionou Rui Rio sobre a não inclusão de Maria Luís Albuquerque, no caso particular de Setúbal, sem esquecer também outros nomes badalados dos últimos dias: Hugo Soares e Miguel Pinto Luz. Sublinhando que "gostaria de ter uma explicação do partido", o dirigente de Setúbal apontou o dedo a Rui Rio com uma mensagem simples: "os grandes líderes unem". Ainda antes desta intervenção, Bruno Vitorino também já se tinha dirigido ao presidente do partido criticando o facto de estar a ser votado "um índice do programa eleitoral", uma vez que o programa foi distribuído aos conselheiros nesta reunião em Guimarães.

Das intervenções críticas, sublinhar ainda a de António Leitão Amaro, que se autoexcluiu das listas logo à partida, mas que não deixou de questionar: "vamos ou não dar a mão aos socialistas?"

O mau resultado do PSD nas últimas eleições europeias também não foi esquecido, mais uma vez com críticas a Rui Rio que, segundo um conselheiro, "não devia ter culpado Paulo Rangel, foi indigno".

Perante isto, Rui Rio ouviu e calou. Leva para análise tudo o que lhe disseram sem rebater nenhuma das críticas que lhe foram apontadas. No final, não falou aos conselheiros e militantes, nem respondeu às críticas aos microfones da comunicação social. Desvalorizou, até porque, sublinha o líder do PSD, já assistiu a outros processos do género "muito mais turbulentos".

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