Pressões na RTP. Direção diz que não, Sandra Felgueiras fala em bloqueios

Sandra Felgueiras queixa-se na comissão parlamentar de Cultura de bloqueios da direção de informação da RTP. Maria Flor Pedroso rejeita pressões e sublinha que na RTP "notícias não ficam na gaveta".

A pergunta que todos querem ver respondida: houve ou não pressões relativas à transmissão da investigação sobre a concessão para a exploração de lítio em Montalegre? A resposta foi dada na comissão parlamentar de Cultura por Maria Flor Pedroso, diretora de informação da RTP: "não, esta direção não foi sujeita a pressões". Ainda assim, as nuances são muitas...

Por requerimento do PSD, a jornalista Sandra Felgueiras, a diretora de informação da RTP, Maria Flor Pedroso, e o presidente da empresa, Gonçalo Reis, estiveram a explicar aos deputados as opções e os pormenores que levaram a emissão do programa Sexta às 9 a acontecer apenas depois das eleições.

Sandra Felgueiras chegou ao parlamento garantindo que não iria "especular" e que todas as informações trazidas eram "100% factuais e baseadas em ampla prova". E à cabeça uma garantia: "se me perguntam se era possível fazer o programa Sexta às 9 durante o mês de setembro, a minha resposta é que sim, era possível com o lítio". A jornalista acrescenta ainda que "nunca teve uma suspensão durante um ato eleitoral" durante os oito anos em que coordena o programa.

Recuando no tempo, Sandra Felgueiras sublinha que no último episódio antes de férias despediu-se dos telespetadores "até setembro", com anuência da direção de informação. À data, já sabia que ia voltar com uma reportagem sobre o caso do lítio tendo em conta que trabalho já tinha começado a ser tratado em antena no mês de abril quando foi "desmontado todo o negócio do lítio".

Eis que em agosto tudo muda: "a 23 de agosto fui chamada para uma reunião presencial com Cândida Pinto e Maria Flor Pedroso onde me foi comunicado que o programa voltaria dia 11 de outubro", diz Sandra Felgueiras tendo recebido a justificação dos "ajustes de grelha".

Respondendo às questões dos deputados, a jornalista alega que sucessivamente tem pedido um reforço de recursos na equipa - algo que foi sendo sucessivamente adiado - e que chegou a afirmar à diretora adjunta Cândida Pinto que se sentia "a ser conduzida para uma morte lenta", mas que "não iria desistir".

Desafiando os presentes a questionar os membros da equipa, Sandra Felgueiras sublinha que as investigações podem estar concluídas, mas que as reportagens só ficam editadas "na véspera ou no próprio dia".

Realçando que refutou (juntamente com a equipa cessante e atual) as justificações públicas da direção de informação da RTP, Sandra Felgueiras mencionou ainda o facto de o secretário de Estado Adjunto e da Energia, João Galamba, ter sempre respondido que "não tinha nada a dizer" e que, só depois de a reportagem ter ido para o ar, é que o próprio gabinete contactou diretamente a direção de informação.

"Desse contacto resulta que sou chamada à direção de informação para que João Galamba venha ao programa", nota a jornalista.

Ainda antes de sair, Sandra Felgueiras afirma manter toda a confiança no trabalho jornalístico que desenvolveu, sublinhando que tudo o que é dito nas reportagens está assente em "amplíssima prova documental e testemunhal".

Pedindo seriedade aos governantes - nomeadamente o Ministro do Ambiente e o Secretário de Estado Adjunto e da Energia - Sandra Felgueiras nota ainda que "quando a única coisa que um político tem para dizer é atacar um jornalista e chamar-lhe mentiroso, seguramente deve pensar duas vezes porque o principio da separação de poderes exige, já dizia Thomas Jefferson, que tenhamos respeito e saibamos que o jornalismo existe para escrutinar o poder".

"Quando perdemos esse norte, perdemos todo o norte", conclui.

"Notícias não ficam na gaveta"

Depois de uma hora de audição a Sandra Felgueiras, é a vez de Maria Flor Pedroso que se fez acompanhar dos diretores-adjuntos Helena Garrido e António José Teixeira.

Flor Pedroso começou por notar que nestas legislativas houve uma opção editorial de cobertura "plena e até por vezes exaustiva" e que foi preciso "sacrificar vários formatos", dando o exemplo do Prós e Contras, a Grande Entrevista, Tudo é Economia e, claro, o Sexta às 9.

Confrontada pelos deputados, a diretora de informação da RTP nota que nos 26 anos que trabalha em jornalismo político, foi constantemente "pressionada por fontes várias", mas que "interferência seria coisa que jamais toleraria". Para responder de forma cabal, Flor Pedroso insiste que "esta direção não foi sujeita a pressões nem do governo nem da oposição porque não é permeável a elas" e que "não houve tentativa nenhuma". "Nem sequer se permite que haja a possibilidade de alguém a pensar ou tentar isso", sublinha.

Adiante, Maria Flor Pedroso sublinha que na RTP as notícias "não ficam na gaveta" e recua à reportagem de abril onde a RTP avançou com a notícia da concessão e do conhecimento do ministro do Ambiente. "A notícia de outubro é esta, mas com outras coisas, nomeadamente de que há novas suspeitas", sublinha Flor Pedroso realçando o facto de um antigo secretário de Estado "estar alegadamente envolvido".

"Essa entrevista foi feita na véspera de o programa ir para o ar. Portanto qual é a dúvida? Se tivesse sido feita antes, obviamente que esta notícia ia para o ar", nota Flor Pedroso.

A responsável pela informação da televisão pública insiste perante os deputados que "não foi dado conhecimento de que tenha havido notícia". "A direção de informação não teve a informação de que havia uma notícia, sabíamos que isto estava a ser investigado, mas nunca ninguém chegou ao pé de nós a dizer "há isto, vamos programar"", conclui.

Perante a insistência do deputado do PSD Paulo Rios, Flor Pedroso notou ainda que à entrada para a reunião de agosto em que se decidiu adiar a estreia do programa, a decisão não estava tomada.

"Não houve nenhuma alteração de decisão por estarmos em época eleitoral. Havendo notícia, teria ido para o ar", conclui a diretora de informação da RTP.

Das audições desta terça-feira, sai ainda a garantia da administração da RTP de confiança em ambas as partes: "Temos toda a confiança na direção de informação, mas também na coordenação do Sexta às 9. Tal como a direção de informação nos tem dito, o programa é para continuar e com a Sandra Felgueiras", assegurou o presidente da RTP, Gonçalo Reis

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