"Vamos ter de apertar um bocadinho." Novo estado de emergência vai ter medidas reforçadas
António Costa admitiu que é preciso dar um "sinal mais claro" aos portugueses e, por isso, as medidas do estado de emergência vão ser reforçadas.
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O primeiro-ministro, António Costa, revelou que o prolongamento do estado de emergência, que deverá ser declarado esta quinta-feira, irá implicar novas medidas que ainda não foram tomadas.
Entrevistado, esta manhã, na SIC, António Costa admitiu que, "para dar um sinal mais claro" à população, o Governo irá "apertar um bocadinho as medidas de emergência".
"Vamos ter de tomar medidas que não foram tomadas até agora", adiantou o primeiro-ministro.
António Costa admitiu que, até ao momento, a ação das autoridades de segurança nas ruas tem sido "basicamente de natureza pedagógica", com a necessidade efetiva de pouca ação coerciva (até ao momento, foram detidas 84 pessoas e encerrados 1600 estabelecimentos).
O primeiro-ministro não tem dúvidas de que a contenção do vírus é "mérito da disciplina dos portugueses", que se "têm resguardado nas suas casas". Mas confessa que será "muito difícil" manter esta disciplina e que o cansaço do confinamento domiciliário irá começar a transparecer este mês de abril, motivo que leva o Governo a reforçar agora as medidas do estado de emergência.
"Quando eu disse que uma boia não nos salva do tsunami, significa que vamos engolir muita água. Mas quanto mais disciplinados formos neste período, menos tempo isto dura", afirmou.
"Páscoa radicalmente diferente"
António Costa lembrou que, apesar de o ritmo de crescimento do número de casos do novo coronavírus estar mais lento, Portugal ainda está na subida da curva epidemiológica, pelo que é imperativo manter o distanciamento social nesta altura de festa da Páscoa, que se aproxima.
"Este mês é perigosíssimo por causa da Páscoa. Este ano, vamos ter de vivê-la de forma radicalmente diferente", apontou.
"As pessoas não podem ir à terra, nem visitar os familiares. Têm de ficar na sua casa", sublinhou o primeiro-ministro, que deixou um pedido aos emigrantes portugueses para que não venham para o país este ano.
"As famílias vão ter de estar juntas separadas", resumiu.
O primeiro-ministro voltou a reforçar a necessidade de isolamento dos idosos, os "avós", a população mais sensível ao novo coronavírus.
"Para quem tem mais de 65 anos, esta doença é muitíssimo mais perigosa. A taxa de mortalidade tem uma diferença brutal. Os idosos são os que mais tem de se proteger", sublinhou, referindo também a questão dos lares e afirmando não ser "admissível" que haja tantas pessoas a abandoná-los.
O regresso às aulas
O regresso às atividades letivas foi outro dos temas mencionados por António Costa. O primeiro-ministro afirma que ainda não há uma decisão sobre se as escolas voltarão a abrir no 3.º período letivo, apesar da hipótese estar a ser estudada. Uma nova avaliação da situação será feita a 7 de abril, após serem consultados os especialistas e as autoridades de saúde, e a 9 de abril será tomada essa decisão.
António Costa garante, contudo, que nenhum aluno irá perder o ano e que o Executivo irá continuar a desenvolver as plataformas digitais que já estão a ser utilizadas e a analisar uma solução de aulas através de televisão digital terrestre (TDT).
"Ninguém vai perder o ano. Temos de salvar o ano e assegurar a todos a maior justiça no processo educativo", frisou.
Confiança na DGS
Para o primeiro-ministro, só será possível combater a pandemia se a população confiar nas autoridades de saúde.
"As pessoas têm de sentir confiança na Direção-Geral da Saúde (DGS) e sentir-se confiantes de que, se isto se descontrolasse, nós tínhamos capacidade de resposta", disse António Costa.
Em relação à desconfiança de parte da população sobre se a informação divulgada pelas autoridades corresponde, de facto, à realidade, o chefe de Governo lembrou que a DGS "tem uma responsabilidade técnica e científica" e que "não anda a brincar com a vida das pessoas".
"Temos de ser sinceros uns com os outros e ter confiança. Mais perigoso do que o próprio vírus, é o vírus do pânico que se generaliza", atirou.
A incerteza do futuro
É desejo geral regressar à normalidade da vida, mas, nesta altura, ainda não é possível prever quando isso irá acontecer. "Não sabemos se vamos estar assim um mês, dois meses, três meses,...", afirmou António Costa, admitindo que essa incerteza é "assustadora".
"Não sabemos. Não podemos iludir as pessoas e dizer que vai ser" de determinada forma, constatou. "Eu não posso governar pela esperança."
Mas, tendo em conta que, de acordo com os especialistas, só deverá existir uma vacina para a Covid-19 no mercado na primavera/verão de 2021, o primeiro-ministro não tem problemas em afirmar que deveremos "viver pelo menos mais um inverno com o vírus".
"Temos de chegar ao ponto em que conseguimos conviver socialmente com o vírus - como convivíamos com o sarampo. Tem de ser devagarinho, dando passos de forma controlada, porque o vírus vai continuar entre nós", declarou o primeiro-ministro, mas acrescentando, de imediato, que, por agora, "ainda não estamos nessa fase", declarou. "Agora temos de gerir a pandemia, de forma a contê-la, para que não haja uma destruição do Serviço Nacional de Saúde (SNS), que seja dramática para a vida das pessoas."
"Não podemos morrer da cura"
António Costa admite que as medidas extraordinárias que foram tomadas a nível económico, para responder à pandemia de Covid-19, são "duras" e "não respondem a todas as necessidades das famílias e das empresas.
"As medidas do lay-off são um corte brutal (um terço do vencimento) para as famílias, mas o apoio do Estado é a fundo perdido", lembrou o governante.
António Costa sublinhou que, para contrariar os efeitos da perda de postos de trabalho, foram tomadas novas medidas (como o alargamento das condições de acesso ao subsídio de desemprego), mas que continuam em vigor as medidas de apoio que sempre existiram "como o subsídio de desemprego, o rendimento social de inserção e o complemento solidário para idosos".
"Há um enorme esforço das empresas. A economia é a vida das pessoas - e a vida tem de continuar. Não podemos morrer da cura", declarou.
O primeiro-ministro recorda que estamos a viver "um momento único", para o qual "ninguém estava preparado", mas diz receber força do "exemplo extraordinário" que os portugueses têm dado.
"Tenho muito orgulho de poder servir o meu país num momento difícil como o que estamos a viver", confessou.
*com Judith Menezes e Sousa