Nas instalações da avenida Almirante Reis, o Instituto de Apoio à Criança tem o ponto de partida e o ponto de chegada. É aqui que trabalham as equipas de rua e é aqui que ficam os alojamentos provisórios para crianças, bem como uma escola de segunda oportunidade. Para fazer a distância entre um ponto e outro percorrem-se as ruas de Lisboa à procura de menores em risco.
Há muitos sinais de crianças, mas a esta hora, fim do dia, o espaço está deserto. Os indícios mais reveladores são verdes; as alfacinhas, recém-plantadas no pequeno quintal, identificadas com cartazes de papel pintados a lápis de cor.
Há um quarto com uma boneca esticada na cama, outro com beliches e uma secretária. São instalações para crianças em situação de emergência, soluções provisórias. Estão vazias.
Há uma cozinha onde cabe uma família. E do outro lado do corredor funciona a escola que tenta motivar o regresso dos que já desistiram de aprender formalmente. A escola de segunda oportunidade que nem precisa de mais explicações.
A visita guiada por Conceição Alves, coordenadora de uma equipa de rua e Lídia Velez, técnica de serviço social, termina com a chegada de Hugo Pereira.
Hugo é especialista em psicopedagogia curativa, mas hoje é também o motorista de serviço.
Nas primeiras conversas enquanto nos acomodamos na carrinha, digamos, "clássica" ou "muito experiente", apesar da diferença de idades percebe-se que todos fazem isto há muito tempo.
No caso de Conceição e de Lídia, há décadas.
Quando sai para a rua, num giro diurno ou noturno, esta equipa tem geralmente muito pouco a que se agarrar, além da sensibilidade experiente.
Às vezes uma descrição física vaga, outras uma fotografia. Procuram crianças que desapareceram da casa de família ou da instituição que as acolhe.
Os pedidos de ajuda chegam geralmente por telefone, pela Linha SOS Criança Desaparecida (116 000).
A rua é grande e mais perigosa do que pode parecer. Esta equipa tem por missão localizar primeiro e tentar recuperar depois as vidas ainda breves de miúdos que, por aventura ou desespero, vão longe demais demasiado cedo.
Esta reportagem é sobre uma dessas viagens, uma dessas noites de procura e de esperança.