Aviso "sério" acerca da cibersegurança. "Portugal não investe o suficiente"

José Tribolet manifesta estar "preocupado" com o desinvestimento na cibersegurança em Portugal. O antigo professor do Instituto Superior Técnico garante que se trata de uma área "dinâmica" que exige os maiores cuidados, até porque há ameaças sérias à privacidade das comunicações.

José ​​​​​​Tribolet, fundador do Instituto de Engenharia de Sistema e Computadores, encara como muito sério o aviso do diretor-geral do gabinete de Segurança Nacional, que afirmou, em entrevista à TSF e ao DN, que nada garante que as conversas ao telefone entre as mais altas figuras do Estado sejam totalmente seguras.

O antigo professor do Instituto Superior Técnico e fundador do Instituto de Engenharia de Sistema e Computadores defende que o país deveria investir muito mais na cibersegurança, depois de António Gameiro Marques ter afirmado que não há forma de garantir a total fiabilidade das comunicações, aconselhando, por isso, os mais altos dignitários a, se o assunto for mesmo secreto, falarem de forma presencial e em ambiente controlado. "São avisos para levar muito a sério. Eu levo-os muito a sério, são muito credíveis." José Tribolet, em declarações à TSF, admite estar preocupado. "A proteção de nós todos, quer individual quer de pessoas coletivas, quer de países, passa em primeiro lugar pelos nossos comportamentos e pela noção do que nós podemos fazer em determinadas circunstâncias com dadas ferramentas", alertou.

O especialista vinca que Portugal não investe o suficiente em cibersegurança e ciberdefesa, "nem a maior parte dos países", até porque se trata de uma área "dinâmica".

"Portugal não investe o suficiente, e não é só dinheiro. Nos próximos anos temos meios financeiros para investir nesta área, como temos muito dinheiro para o PRR." José Tribolet pede, no entanto, que, a investir-se verbas na cibersegurança, essa aposta deve ser feita com organização, planeamento e controlo, empreendendo "planos articulados e coordenados".

José Tribolet explica que falta uma mobilização mais consciente de toda a população: "Isto tem de ser uma movimentação de baixo para cima, de toda a sociedade, de toda a estrutura, que compreende os riscos que há em atravessar a rua fora da passadeira. É preciso haver ruas, passadeiras e regras de trânsito, e muitas vezes não há. É muito frágil."

Quanto à possibilidade do voto eletrónico, o investigador fala, com conhecimento de causa, numa área que já foi desenvolvida o suficiente para que possa ser colocada em prática. "Os sistemas a usar no voto eletrónico têm de ser muito bem pensados, muito bem testados, e a sua operação no terreno tem de ser muito acompanhada e auditada", comenta.

José Tribolet foi "contratado" para testar a votação eletrónica em Portugal, e já executou testes "para organizações relevantes", pelo que advoga: "Não vou dizer que é um sistema à prova de bala, mas é um sistema que eu, para um grande número de testes eleitorais... Neste momento, confiava neste sistema."

Na perspetiva do fundador do Instituto de Engenharia de Sistema e Computadores, a condução do processo deve ser confiada a organizações competentes, e privilegiando fornecedores de sistemas com provas dadas. No entanto, o processo poderia avançar já. O especialista considera que era possível arriscar agora uma votação massiva, não em legislativas ou presidenciais, mas numas eleições autárquicas.

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