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A barragem do Vilar, que serve os concelhos de Sernancelhe, Moimenta da Beira e Tabuaço, no distrito de Viseu, está com níveis historicamente baixos. É uma das albufeiras do país mais vazias, o que está a deixar apreensivos habitantes e os produtores de maçã da zona.
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Segundo dados avançados à TSF pela Agência Portuguesa do Ambiente, a barragem "está a 15% da capacidade total". Tem "15 milhões e trezentos mil metros cúbicos" de água, quando a "capacidade máxima da albufeira corresponde a 99 milhões e 750 mil metros cúbicos". A produção de eletricidade foi suspensa no início de junho.
Ouça as preocupações dos agricultores
As margens estão agora mais distantes do leito do rio Távora. Apesar do reduzido caudal, na aldeia da Faia, em Sernancelhe, ainda há quem tente pescar. É o caso de António Lopes que madrugou para lançar o anzol à água.

António Lopes
© José Ricardo Ferreira/TSF
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"É raro vermos a barragem como está agora", confessa o emigrante em França, assegurando que, apesar de tudo, ainda dá para pescar.
Quem não se aventurou nisso foi António Almeida, que nem a cana tirou do carro.
"Gosto que o peixe saia, o ano passado saía muito mais. Este ano vim cá várias vezes e ainda não saiu nada", refere, sem esconder o desalento por a barragem ter "pouca água". "É mau também para a agricultura", atira.
Na Faia, toda a população está preocupada com a seca. Maria de Lurdes Cruz olha com "uma dor de alma" para a albufeira.

Maria de Lurdes Cruz
© José Ricardo Ferreira/TSF
"Nunca vi uma coisa assim. Mesmo os miúdos agora no verão iam para ali tomar banho, este ano têm medo de ir para lá porque está muito funda e já tem acontecido muitas desgraças aqui na barragem", lembra.
"Estamos muito preocupados. Onde é que vamos buscar a água para beber? Deus é quem manda", afirma, acrescentando que reza todos os dias para que a água não falte na localidade.
A albufeira está baixa, mas ainda não secou como em 1983. Nesse ano, a barragem "foi despejada para reparação", recorda o presidente da Junta da Faia, Carlos Teles.

António Almeida
© José Ricardo Ferreira/TSF
O autarca garante que o abastecimento público às populações está assegurado e esconde a preocupação com combate aos incêndios florestais este verão.
"Era uma barragem para todo o tipo de aviões e agora nem grandes, nem pequenos. Os pequenos ainda conseguem vir aí de vez em quando, mas com muito cuidado, os Canadair já não conseguem, não têm espaço para levantar e apanhar. Deus queira que não, mas isto pode ser uma tragédia", alerta.
Os produtores de maçã, um dos frutos mais importantes para a economia da região, também estão apreensivos com a falta de água na barragem.
Ouça aqui a reportagem na barragem do Vilar
Nestes dias de seca, Nazaré Caiado, fruticultora há 12 anos, tem que recorrer a uma bomba para retirar água da albufeira de modo a alimentar os pomares que têm nas aldeias da Faia e de Cabaços.
"A água está cada vez mais baixa e temos que pôr a bomba cada vez mais longe", conta, adiantando que como a barragem "está muito baixa" os produtores também estão a tirar menos água.
"Não podemos gastar muito porque aquilo está muito baixo", explica.
Nazaré não acredita que a água dure até à apanha das maçãs, lá para setembro. Para já, os agricultores ainda têm autorização para recorrer à barragem, mas o cenário daqui para a frente é negro.
"Se nos disserem que não [podemos tirar mais água] seca tudo", argumenta.
Armando Rafael Ferreira, um jovem produtor de maçã, na aldeia de Vilar, também está preocupado.

Armando Rafael Ferreira
© José Ricardo Ferreira/TSF
"Ainda tenho a possibilidade de captação do rio, mas se o rio continuar a descer como está podem nos vir a tirar esse direito", diz.
O jovem, de 29 anos, tem um depósito com 250 mil litros, alimentado com a água da albufeira, que vai enchendo de três em três dias. Com os frutos a crescer nas árvores, defende que o abastecimento aos pomares tem que ser mantido.
"A fruta está a crescer e tem que crescer e não nos pode faltar água nesta altura", avisa.
Com a seca que se faz sentir na aldeia da Faia, o agricultor Óscar Paixão até já deixou algumas culturas de lado.
"Se viesse uma semana de inverno [a barragem] enchia logo. Aqui não tem chovido nada. Eu tenho ali em cima um terreno, o que vale é a mina e o furo que lá tenho se não fosse assim secava tudo", lamenta.