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No dia em que se assinala o quinto aniversário da entrada em vigor da chamada "lei do piropo", a deputada do PSD Carla Rodrigues, que esteve envolvida na lei que avançou com penas de cadeia para o crime de importunação sexual e propostas de teor sexual, pede aos juízes que "façam o seu trabalho" de modo a que a lei seja respeitada, isto num momento em que só um em dez inquéritos resulta numa acusação.
Nos últimos cinco anos, o Ministério Público instaurou cerca de quatro mil processos que resultaram em mais de 470 acusações.
A percentagem de acusações é de 11,5%, um número que, escreve o Jornal de Notícias, parece baixo mas não é muito inferior ao de todas as acusações no geral. No ano de 2019, em cerca de meio milhão de processos, apenas 14% deram origem a acusações.
Ainda que sem acusação, nem todos os inquéritos são arquivados por falta de indício da prática de crime. O presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, António Ventinhas, explica ao JN que, por vezes, a procuradoria conclui que houve crime, mas propõe ao arguido que faça trabalho comunitário ou uma doação a uma instituição de solidariedade social de forma a evitar a acusação.
A desistência da queixa é outra razão apresentada para o arquivamento de crimes de importunação sexual.
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Mentalidade mudou, mas o caminho ainda é "longo"
Há cinco anos, a alteração à legislação foi feita quando se traçou para o ordenamento jurídico nacional a Convenção do Conselho da Europa para a Prevenção e o Combate à Violência Contra as Mulheres (ou Convenção de Istambul).
Carla Rodrigues coordenou então o grupo de trabalho que tratou do pacote legislativo da Convenção de Istambul e, à TSF, admitiu que apesar de ter sido difícil, a mentalidade está a mudar, embora esse "caminho longo" ainda não esteja completamente percorrido.
Sucesso de uma lei "deve aferir-se, sobretudo, pelo número de crimes que essa lei evita".
"O sucesso de uma lei não se afere, em meu entender, pelo número de condenações que essa lei produz mas deve aferir-se, sobretudo, pelo número de crimes que essa lei evita", defende a deputada.
Apesar da mudança reconhecida, Carla Rodrigues indica que há uma que ainda está por acontecer: a da mentalidade dos juízes perante este crime. A parlamentar fica mesmo indignada com o facto de alguns juízes considerarem que esta lei não tem "dignidade penal" e, por isso, pede-lhes que façam cumprir a lei.
Carla Rodrigues pede aos juízes que "façam o seu trabalho".
"É preciso que também os tribunais tenham consciência de que este é um crime grave", alerta, dirigindo-se aos juízes que não veem "dignidade penal numa proposta de teor sexual que é formulada na rua ou num ambiente de trabalho a uma mulher".
Por isso, o pedido é simples: "Que façam o seu trabalho. Os deputados fizeram o seu trabalho, legislaram e introduziram esta alteração no Código Penal em boa hora. Agora é preciso que os tribunais apliquem - e apliquem bem - esta lei."