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"Respeito pela educação" foi um dos motes que mais se ouviu na manifestação dos professores em Coimbra, que juntou três mil pessoas. Logo ao início da manhã, na concentração à porta da Escola Básica 2º e 3º ciclos Martim de Freitas, Ana Lopes, professora de português, contava à TSF que esta já era a segunda escola em que lecionava neste ano letivo. "Vim substituir um horário que é completo e é-me considerado horário incompleto. Tudo isto somado ao longo de anos consecutivos é penalizador numa futura pensão de reforma, porque não conta o tempo total".
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A docente diz "ser considerada para o Estado trabalhadora em part-time". "O Estado precisa de mim, e eu estou constantemente a ser chamada para fazer substituições e o que é certo é que depois nos meus direitos sou penalizada desta forma. É contra isso que me manifesto", acrescenta Ana Lopes que, no ano passado, esteve em quatro escolas.
À manifestação em Coimbra juntou-se também Miguel Cruz, professor de matemática e ciências naturais, vindo de Cantanhede. Exerce há 23 anos e, "se estivesse na escola, teria que fazer 90 km para cada lado para conseguir lecionar".

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"Tenho mais de um milhão de quilómetros feitos para dar aulas. Já dei aulas de norte a sul do país e aquilo que estou a ver é que vou continuar a ter que percorrer estas enormes distâncias para conseguir dar aulas", conta o docente que atualmente não está a dar aulas por questões de saúde.
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"Acho que só poderemos atrair jovens para esta profissão se conseguirmos ter respeito. Respeito por parte do Ministério da Educação, essencialmente. Porque neste momento, tenho visto que os pais, os encarregados de educação estão com os professores e entendem esta luta dos professores", acrescenta Miguel Cruz.
Maria Aparecida é educadora de infância há mais de três décadas. Aos 61 anos, considera haver uma falta de respeito pelos professores: "No início da carreira, praticamente percorremos o país todo e mesmo assim não conseguimos vincular. No meu caso, tive de ir vincular para a ilha da Madeira", afirma.
A educadora de infância espera que a luta dos professores seja ouvida, porque, nota, estão a lutar pelos seus direitos.
A TSF falou ainda com Rita Silva que frequenta o primeiro ano do curso de matemática e que se juntou à manifestação porque "sempre quis ser professora" e, em casa, tem dois pais contratados. "Quis-me juntar para lutar pelos direitos deles, mas também para lutar por aqueles que mereço e que quero ter no futuro".
A jovem admite que atual situação dos professores "desanima um bocadinho". "Vejo todos os colegas do meus pais que me dizem para eu desistir, para mudar de ideias, porque ser professor, neste momento, não é fácil. Acho que é algo que devia mudar e é por isso que estou aqui hoje".
Rita Silva mantém, no entanto, a motivação porque, diz, sempre quis ser professora. "Não queria mudar por causa disto. É mesmo o gosto pela profissão".
Entre os professores havia também estudantes que se juntaram em solidariedade. "Não vamos ser ninguém sem os professores", disse à TSF um grupo de quatro alunos do 11.º ano.
Para a Praça 8 de Maio confluíram três marchas que partiram de pontos diferentes da cidade. Foram cerca de 3 mil os professores que participaram neste protesto, segundos números da polícia.
O secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (Fenprof) apontava, no início da concentração, que esta greve em Coimbra estava "acima de todos os dias anteriores, atingindo o nível de 95 por cento".
"Com um nível de adesão deste o que é que nós podemos dizer ao Governo? Que Coimbra é uma lição também na educação".