Como evitar que tragédia dos incêndios volte a acontecer? Investigadores apresentam Scapefire

O projeto de planeamento florestal Scapefire prevê a criação de linhas de vazios, de áreas agrícolas e de pastagens e um regresso gradual à floresta autóctone.

72% da área dos municípios mais afetados pelos grandes incêndios de junho de 2017 precisa de uma reviravolta no ordenamento do território. É uma das conclusões de um estudo do Instituto Superior de Agronomia, da Universidade de Lisboa.

O mesmo grupo de investigadores propõe um plano para o Pinhal Interior, o Scapefire, que pode ser aplicado a qualquer município português que entenda fazê-lo.

Manuela Raposo Magalhães, coordenadora deste plano, que, em Figueiró dos Vinhos, um dos concelhos afetados, disse à TSF que se nada for feito é inevitável que a tragédia volte a repetir-se.

Parece um ideal, mas é possível, o Scapefire pretende voltar ao tempo da floresta autóctone, sobretudo composta por folhosas, como carvalhos e castanheiros, que também ardem, mas são de combustão mais lenta. Para isso, é preciso deixar de apostar na "economia do pau", refere Manuela Raposo Magalhães, investigadora do ISA. "As espécies utilizadas e a sua organização no território fazem toda a diferença, até porque as espécies arbóreas não ardem todas da mesma maneira. As que mais ardem são, primeiro, o pinheiro bravo e depois o eucalipto".

E são estas as espécies que marcam a paisagem do Pinhal interior, mesmo depois dos grandes incêndios. O Scapefire prevê a criação de linhas de vazios, de áreas agrícolas e de pastagens e um regresso gradual à floresta autóctone. Mas isso só será possível, diz a investigadora do ISA, Manuela Raposo Magalhães, se a população e o poder local aderirem a esta transformação, que poderá depois proporcionar uma nova economia, que precisa de tempo para mostrar que vale a pena. E durante esse período, o apoio do Estado é fundamental.

Para implementar este plano, o grupo de investigadores diz que é preciso apoio do governo, não só para financiar o período de transição que será de 30 anos, mas também na divulgação desta alteração de política radical em relação ao ordenamento do território. Manuela Raposo Magalhães fala ainda da necessidade de fazer o levantamento do cadastro dos terrenos, proporcionando também uma gestão coletiva das parcelas por parte de empresas privadas.

O que não se pode permitir, de acordo com a investigadora do ISA, é continuar a privilegiar o pinheiro bravo e o eucalipto, não fazendo a gestão da floresta, até porque, se nada for feito para inverter esta tendência, e perante o crescimento desgovernado após os incêndios de 2017, a repetição da tragédia é inevitável. "Vai voltar a acontecer. Basta fazer esta estrada, em que se vê que aquilo que ardeu em 2017 está a rebentar e, como não é gerido, a densidade é imensa. Vai voltar a acontecer", reitera.

Manuela Raposo Magalhães espera agora o acolhimento dos municípios mais afetados: Figueiró dos Vinhos, Castanheira de Pêra e Pedrógão, mas de qualquer outro português que queira transformar o seu território com o Scapefire.

O estudo do ISA conclui que as espécies utilizadas e a sua organização no território fazem toda a diferença, porque não ardem todas da mesma forma, e propõe uma revolução no ordenamento do território, que tem de passar por uma mudança de mentalidades e acabar com o "deserto verde" de pinheiro e eucaliptos no centro do país. Para que isso aconteça, dizem os especialistas, como pode ouvir no áudio desta reportagem, é preciso que este projeto de investigação seja dado a conhecer e alavancado pelos autarcas dos municípios que foram afetados pelos grandes incêndios.

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