Abates de animais para instalar painéis solares na Torre Bela começaram há meses

Promotor confirma que central fotovoltaica, que ainda está a ser alvo de avaliação ambiental, fez com que veados, gamos e javalis se tornassem um problema, mas o objetivo declarado seria evitar o "extermínio" .

O Estudo de Impacto Ambiental entregue em novembro à Agência Portuguesa do Ambiente (APA) confirma que nos últimos meses a proprietária da Quinta da Torre Bela já tinha desenvolvido várias caçadas com o objetivo de conseguir uma grande redução do número de veados, gamos e javalis.
Segundo a documentação consultada pela TSF, a razão apontada é só uma: a expectativa de se vir a construir uma central fotovoltaica para produção de energia solar: "Na ausência do projeto seria de esperar que se mantivesse a zona de caça".

O mesmo estudo acrescenta que a empresa proprietária estava interessada em encontrar uma solução para os animais, pois iria beneficiar do arrendamento dos terrenos para a futura central.

A "solução"

O estudo, com data de novembro, revela que os animais que durante anos foram uma fonte de rendimento numa zona de caça tornaram-se num problema que precisava de "solução" - expressão usada no documento que é claro a dizer que os painéis solares iriam fazer com que veados, gamos e javalis ficassem sem espaço para o seu habitat.

"A zona não tem dimensão e alimento suficiente para a manutenção de todos os animais existentes".
No entanto, soltar os animais de uma quinta murada (a maior do país) e colocá-los em liberdade não seria possível pois uma análise preliminar verificou que os veados e gamos da Torre Bela são geneticamente diferentes das espécies existentes na Península Ibérica.

Prevê-se, aliás, que antes do início das obras todos os animais estejam retirados dos terrenos.
As soluções seriam duas e gradualmente, refere o documento, os animais já estavam a ser transferidos da zona murada onde será instalada a futura central.

Por outro lado, a empresa proprietária tem desenvolvido várias ações de caça que resultaram numa "grande redução" do número de animais.

Evitar "extermínio"

Em março, uma análise preliminar do projeto, também lida pela TSF e entregue pelo promotor na Agência Portuguesa do Ambiente, dizia que estava a ser ponderada uma solução alternativa de transferência para uma outra herdade, evitando uma solução mais drástica através de sucessivas ações de caça.

O documento sublinha que a meta era evitar o "extermínio" e adianta que estavam a ser avaliadas várias soluções e que estas iriam ser apresentadas ao Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) para se escolher a melhor opção.

A TSF contactou o ICNF para saber se receberam alguma proposta da promotora da central fotovoltaica ou da proprietária dos terrenos sobre o destino a dar a estes animais, mas até ao momento não foi possível obter resposta.

A retirada de veados, gamos e javalis da Quinta da Torre Bela é uma das medidas de minimização dos impactos ambientais apresentadas pelos promotores do projeto para que a APA aprove a central de energia solar.

"Inegável interesse público"

O estudo de impacto ambiental faz questão de salientar que é "inegável o interesse público" das centrais fotovoltaicas, sublinhando que se inserem nas linhas de orientação do Governo.

A central a construir na Torre Bela corresponde a um lote do leilão de energia solar feito pelo Estado em julho de 2019 e que foi ganho pela empresa promotora da obra.

O estudo de impacto ambiental refere o impacto positivo da futura central para as metas de Portugal no combate às alterações climáticas e para os compromissos do país em termos de produção de energia através de fontes renováveis até 2025.

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