Inovação na agricultura vale prémio internacional a investigadores do Técnico

Ainda está a dar os primeiros passos, mas uma aplicação móvel quer ajudar os agricultores a monitorizar em tempo real o estado dos solos e, no final do dia, a poupar dinheiro. O objetivo a longo prazo é dar recomendações, como tipo de fertilizante a aplicar no solo.

Investigadores do Instituto Superior Técnico (IST) foram premiados com 25 mil euros pelo desenvolvimento de uma aplicação que permite aos agricultores obterem informação sobre as suas culturas a partir de uma fotografia tirada de um telemóvel.

O protótipo da aplicação VirtuaCrop, criado por Ricardo Teixeira e Tiago Morais, investigadores do Laboratório de Robótica e Sistemas de Engenharia do IST, em Lisboa, foi distinguido com um dos prémios do concurso #myEUspace, promovido pela Agência da União Europeia para o Programa Espacial. A informação foi divulgada esta segunda-feira pelo IST, sendo que o nome dos vencedores foi conhecido na semana passada, em Praga, na República Checa.

Em declarações à TSF, Ricardo Teixeira esclarece que "esta aplicação permite aos agricultores, por tirar uma fotografia ficarem desde logo com uma ideia do estado do seu solo, sem ter que para isso mobilizar muitos meios, a recolher amostras de terra, a mandar para o laboratório".

A aplicação junta as fotografias e combina-as com dados recolhidos através do satélite, fornecendo aos agricultores informação sobre as suas explorações em tempo real, como por exemplo dados de matéria orgânica no solo ou estado nutricional do solo".

Os agricultores já têm estas informações, recorrendo aos laboratórios, mas a diferença, com esta aplicação, está no custo. "Para um agricultor que queira uma análise rigorosa, saber exatamente a matéria orgânica que tem no seu solo a melhor maneira é a análise laboratorial. A questão é que é caro. Para os produtores pode ser útil ter uma ferramenta, que ainda que com mais erros do que as análises laboratoriais, lhes permita simplesmente tirando uma fotografia cobrir toda a sua exploração", revela um dos investigadores do projeto.

Foi precisamente este objetivo, de tornar mais simples e acessível aos agricultores estas informações, que Ricardo Texeira e Tiago Morais tiveram a ideia de criar uma aplicação. Só a ideia fez com que ganhassem de imediato um prémio de 10 mil euros, logo em fevereiro, já que ficaram entre os quatro projetos selecionados pelo concurso #myEUspace. O desafio foi concretizar o que tinham em mente. Nove semanas bastaram para por a aplicação de pé. O sucesso fez com que tivessem ganho o concurso na categoria "Agricultura por Satélite" e, desta forma, arrecadado mais 25 mil euros. Ao todo, os investigadores já têm disponíveis 35 mil euros para continuar a desenvolver a aplicação.

Segundo o comunicado do IST, a equipa do pretende angariar financiamento adicional que permita tornar a aplicação num produto comercial que tenha "elementos adicionais úteis para os agricultores, como recomendações de fertilização e a avaliação do estado e produtividade das culturas".

Ricardo Teixeira garante que, para além das recomendações, há temáticas que vão passar a estar incluídas na aplicação, desde a seca, até à proteção dos solos, passando pelas alterações climáticas.

O investigador conta que a ideia para criar a aplicação surgiu do que viram no terreno. "Nós trabalhamos muito no desenvolvimento de algoritmos para estimar, por exemplo, produções de culturas a partir de dados de satélite ou de drone. Nós sempre vimos, mesmo enquanto investigadores o custo, não só em termos de tempo, mas monetário que implica as deslocações ao campo, o funcionamento destes equipamentos. Sempre nos fez pensar que, mesmo para nós​​​​, com recursos de investigação, isto é complicado, é muito complicado para um agricultor algum dia vir a usar estas tecnologias", acrescenta.

Uma versão da aplicação encontra-se disponível no sistema operativo Android e pode ser requisitada para teste por agricultores a partir da página www.virtuacrop.com.

A Agência da União Europeia para o Programa Espacial lançou em 2021 o concurso #myEUspace para apoiar o desenvolvimento de soluções comerciais inovadoras, como aplicações móveis ou soluções baseadas em 'hardware' que beneficiam dos programas europeus de navegação por satélite Galileo e observação da Terra Copernicus.

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