Memórias do Pinhal Interior resgatadas para devolver identidade e orgulho às comunidades locais
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Memórias do Pinhal Interior resgatadas para devolver identidade e orgulho às comunidades locais

Está a ser desenvolvido um projeto no Pinhal Interior Sul, que pretende resgatar memórias. O "Memórias Resgatadas, Identidades (Re)construídas", coordenado pelo Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, já entrevistou 82 seniores e já passou por 122 freguesias destes concelhos, desde agosto de 2019.

Têm sido recolhidos testemunhos, mas também tem sido criado um inventário das antigas escolas primárias, garantindo assim o levantamento de património imaterial, mas também do património escolar que ainda resiste ao tempo.

O estudo ainda não está fechado, mas já há algumas conclusões, como por exemplo, a imagem que existe do interior está longe de ser verdade, dizem os historiadores.

Na reportagem áudio que anexamos a este texto, Maria Ezequiel Castanheira descreve a chegada à escola no Pinhal Interior dos anos 50 do século passado, quando chegava, por caminhos tortuosos, de burro, aquele que era o seu meio de transporte.

Apenas uma das muitas histórias que o projeto "Memórias Resgatadas, Identidades (Re)construídas" está a recuperar. Para já são já mais de 80 entrevistas e autobiografias que estão a permitir criar um arquivo vivo, como lhe chama a professora Ana Isabel Madeira, a coordenadora do estudo.

Tudo está a acontecer com um objetivo concreto, que é "promover uma cidadania ativa e a construção de processos de aprendizagem ao longo da vida, apoiados na memória e no património local", constituindo uma memória da educação ao nível local, "identificando o património material e imaterial".

O trabalho de resgate de memórias começou com as universidades seniores da região, mas depois foram sendo criadas redes na própria comunidade. Estes testemunhos estão também a permitir perceber como era o processo de alfabetização em meio rural, no "seu desdobramento mais académico". Neste campo, pretende produzir produção de conhecimento sobre a alfabetização em meio rural, "um objeto praticamente negligenciado pela historiografia da educação portuguesa".

O levantamento das memórias já passou por 122 freguesias destes concelhos do Pinhal Interior. Helena Cabeleira, investigadora no projeto, lembra que a recolha de memórias que abrange o vasto território do Pinhal Interior estava em velocidade cruzeiro quando surgiu a pandemia. "Quando estávamos a aquecer as turbinas e tínhamos a rede de contactos criada no terreno, tivemos que voltar cada um para sua casa e trabalhar em bases de arquivos e organização a informação que ficou recolhida nos seis meses que estavam para trás", explica.

Na reportagem áudio ouvimos o poema trazido pela voz da jornalista da TSF Rita Costa, da autoria de Acúrcio Castanheira, que o escreveu para o livro de fim de curso de magistério primário de sua filha Maria Regina, em 1956. É uma das memórias resgatadas.

Outro dos eixos do projeto "Memórias Resgatadas, Identidades (Re)construídas" é o levantamento do património escolar, porque é deste património escolar que resultam as histórias. Helena Cabeleira conta histórias como aquelas que se viviam nos "autênticos caminhos de cabra que eram os caminhos para a escola", como "pessoas que eram apanhadas por trovões pelo meio do caminho, que chegavam à escola molhadas, que faziam os trabalhos de casa em lousas e depois, pelo caminho, aquilo apagava-se e a professora ralhava".

Ana Isabel Madeira conta que o lado cívico do projeto "Resgaste de Memórias" é o de devolver uma identidade à população de um território que adquiriu uma imagem, que está longe de corresponder à verdade. "Esperamos devolver uma identidade às comunidades locais, o seu orgulho de pertença a um território, para nós isso é muito importante", explica.

Para já e aproveitando o contexto de pandemia, a equipa está a estudar a resposta que este conjunto de municípios deu às populações durante a pneumónica em 1918, comparando essa resposta com a atual crise de saúde pública provocada pela Covid-19. "Há aquelas histórias que pairam, que ficaram dos pais e dos avós. O médico local Acúcio Castanheira, ele próprio viveu este problema, foi a praxe dele de saída da faculdade. Estamos a tentar perceber se ainda há alguma coisa que possamos resgatar dessa memória da pneumónica", refere Helena Cabeleira.

O estudo inicial não estava focado nas memórias da pneumónica, mas o caminho foi encontrado por causa dos impactos da Covid-19 na recolha dos testemunhos locais.

Uma peça fundamental na recolha destas memórias foi António Manuel Silva, professor e investigador local. É ele que sublinha o que o projeto pode deixar para as comunidades locais. "Os nossos materiais vão ser postos à disponibilidade das comunidades locais, criando riqueza no interior, através do turismo cultural, com possível rotas e circuitos temáticos, que os municípios e as escolas possam querer criar aqui no Pinhal Interior Sul", aponta.

Existe para isso um site onde são divulgados os achados e as memórias resgatadas, que pode encontrar neste site.

Está a ser preparado um livro de biografias e de entrevistas e ainda uma monografia que vai reunir todos os eixos do projeto.

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