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Eduardo Machado, professor de Português em Olivença, assume que o município recusa virar costas aos cinco séculos de história como cidade portuguesa, admitindo que a língua é o aspeto mais imaterial do cruzamento de culturas. Isto apesar da perda de influência ao longo das últimas décadas.
Explica a tendência com o facto de o português ser, efetivamente, a língua materna dos mais velhos em Olivença, mas entre as décadas de 50 e 60 do século passado o mundo rural começou a falar castelhano com os filhos que viriam a perder o contacto com o Português.
"A elite mais poderosa da sociedade, constituída pela administração, Igreja e escola, falava o espanhol e o mundo rural percebeu que o Português não era uma língua de futuro e que a língua 'rica' era o espanhol", sublinha o professor que mais tem impulsionado o ensino da língua de Camões nos últimos anos em Olivença.
Olivença quer classificar português como Bem de Interesse Cultural. Ouça a reportagem da TSF.
Eduardo Machado assume que ter deixado de falar português com os filhos "foi o maior erro" cometido pelos oliventinos, admitindo ter sido o passo que levou os jovens a perderem o interesse pelo "Português Oliventino", tal como o docente o designa.
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O tema esteve em foco nas celebrações do Dia de Portugal que hoje tiveram lugar em Olivença, numa altura em que se tenta inverter a tendência e o contacto com o Português já começa nos primeiros anos de vida das crianças.
"Já temos aulas de Português para crianças logo a partir dos dois anos e estamos com um projeto de recuperação com os próprios lares de idosos, onde se pretende trabalhar os aspetos cognitivos das pessoas, mas, através das memórias, estamos a fazer uma recolha de dados para os podermos trabalhar", revela, reportando-se a detalhes culturais relacionados com a língua portuguesa.
A autarquia juntou-se, entretanto, à causa, assumindo a apresentação de um projeto ao governo regional da Extremadura, que ambiciona classificar o Português como Bem de Interesse Cultural.
"A diferença entre o português de Olivença e o português em Olivença deve ficar bem explícita", ressalva, alegando que é o português de Olivença que deve ser reconhecido pela Junta da Extremadura.
"A classificação é muito importante, não como um fim, mas como um meio. Sabemos que é um português que está em declínio, mas que pode ter influência no desenvolvimento de Olivença, como um valor turístico e económico", resume.
Entretanto, neste momento cerca de 1300 oliventinos já optaram pela dupla nacionalidade, tratando-se do único concelho espanhol onde para também se ser português basta ter nascido por aqui, ser descendente ou casado com um natural da terra.