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O Governo alertou que não é tempo para falar em desconfinamento, e os especialistas ratificam a recomendação com dados científicos. No Parlamento, os deputados ouviram quatro académicos que aconselharam cautelas no desconfinamento, e apontaram o final de março como o momento ideal para levantar a medida.
Numa apresentação feita aos deputados, Carlos Antunes, professor de engenharia geoespacial da Universidade de Lisboa, lembrou que o número de internamento nas unidades hospitalares ainda está longe dos números antes do Natal.
"Os números de camas pré-Natal nos cuidados intensivos só serão conseguidos a 6 de março", aponta, alertando para a necessidade de o número de internados diminuir para que o país possa desconfinar.
Com quatro classes de risco, Carlos Antunes explicou que o objetivo é dar "uma resposta de precaução para um fenómeno exponencial". "Os níveis muito elevados definem as linhas vermelhas que não podemos ultrapassar", disse.

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O professor pediu, igualmente, que as medidas sejam implementadas quando se dá a transição do nível 2 para o 3, e alerta que Portugal só deverá voltar ao segundo nível no final de março. Antes disso, o Governo não tem luz verde do académico para avançar com o desconfinamento.
Em relação à testagem, Carlos Antunes admite que é um caso "muito complexo". O professor explicou que têm de existir critérios claros, e que o processo aleatório não permite perceber se as escolas são locais seguros.
"Se fizer uma testagem só sobre os suspeitos, a prevalência é de 20%, vou encontrar 200 pessoa infetadas por cada mil testes. Se for aleatório dentro das escolas, posso fazer mil testes, mas vou encontrar apenas 0.8 infetados", explicou.
Quanto ao número de testes realizados, o professor de engenharia nota que a positividade está perto de cinco por cento, ou seja, "deve-se testar mais".
"Era desejável que a capacidade de testagem se pudesse alargar, com mais critérios de testagem, sobre suspeitos de cada contacto", diz.
Portugal pode ter o triplo dos casos conhecidos
Henrique Oliveira, do Instituto Superior Técnico, assumiu que a variante britânica começou a provocar os primeiros óbitos em Portugal "a 16 ou 17 de janeiro". O professor assume que os especialistas já tinham previsto um aumento de casos, tendo ficado "aterrorizado quando percebeu que o Natal ia ser livre".
"Disse logo que íamos ter um mês de janeiro muito duro", recordou.
Por outro lado, o especialista assume que Portugal "está mais próximo da imunidade de grupo do que se imagina". Henrique Oliveira explica que o país tem "muito mais" de 700 mil recuperados, ao contrário do que indicam os registos.

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"No Luxemburgo detetam mais casos, logo a letalidade é menor. A diferença está nos casos que não testamos, que já recuperaram e que contam para a contabilização", diz. Henrique Oliveira garante que pode existir quase o triplo dos casos conhecidos.
"Casos ativos estão a crescer." Especialistas pedem cautelas no desconfinamento
Numa ilustração com jacintos de água, Henrique Oliveira explicou o crescimento da pandemia, "que duplica o número de casos a cada dia". Ora, para retirar os jacintos, é necessário resolver o problema logo no início. Assim, o professor do Instituto Superior Técnico aconselha o Governo a tomar medidas o mais cedo possível.
"Com um número de casos elevado, o país não terá capacidade para gerir todos os doentes", lembrou.
No Natal, Henrique Oliveira adianta que os casos já estariam a subir, embora ainda não fosse percetível na positividade dos testes.
O especialista referiu ainda que a vacinação terá de abranger mais do que 77,8 por cento da população, uma vez que as vacinas não são totalmente eficazes. "Se queremos atingir a imunidade de grupo, não nos podemos esquecer que as vacinas não são cem por cento eficazes", apontou.
Henrique Oliveira afirma que se deve pensar no desconfinamento, mas com prudência, "para evitar os erros de janeiro e dezembro". O professor explicou que a taxa de variação diária de casos ativos está a crescer.

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