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O Centro Hospitalar Lisboa Ocidental (CHO) garante estar a fazer "tudo" para que as urgências do Hospital São Francisco Xavier não tenham de fechar em agosto. Em declarações feitas à RTP depois da reunião com os clínicos que terminou sem acordo, a presidente do Conselho de Administração, Rita Perez, disse que "estão asseguradas as condições mínimas" para as urgências funcionarem, se a equiparação de internos do último ano a assistentes hospitalares for aceite. Se assim não for, "terei que interromper férias", admitiu.
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A responsável explicou que na base do problema estão as férias dos profissionais que foram aprovadas em março. No caso da medicina interna, o plano foi pensado considerando que as sete vagas para assistentes hospitalares seriam preenchidas, o que não aconteceu.
"Era um número suficiente para não termos nenhum problema durante o verão todo", disse, explicando que quatro destes lugares ficaram vazios por uma questão de falta de atratividade: "Os assistentes hospitalares, muitas vezes, preferem ser tarefeiros aqui e ali porque ganham bastante mais e, sobretudo, deixa-lhes mais tempo livre."
Com essas vagas por preencher, o que o hospital fez, para não tomar medidas "drásticas de interrupção de férias", foi "uma equiparação de internos do último ano com funções de assistente", passando as equipas de urgência a ser constituídas por um assistente hospitalar (com função de chefia) e um interno de formação geral, além de outros especialistas.
Se essa equiparação - "que até é reconhecida pela Ordem" - for aceite, as urgências do hospital estão garantidas.
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"Estão asseguradas as condições mínimas para as urgências funcionarem, de um modo que não é aquilo que a gente quer, absolutamente, mas que mantém a segurança", sublinhou.
Desafiada a dizer se podia garantir que as urgências gerais do São Francisco Xavier não vão fechar, a responsável respondeu: "Tudo estamos a fazer para que nada disso aconteça, e nada disso, muito provavelmente, vai acontecer, a não ser que nos vejamos obrigados."
Rita Perez adiantou ainda ter proposto a criação de um grupo de trabalho, frisando, por outro lado, que "não ficou claro e evidente" que os 19 médicos que ameaçaram demitir-se o vão fazer.
Interromper as férias? Sindicalista fala em "solução extremista"
Reagindo na TSF às declarações da presidente do Conselho de Administração do (CHO), Bruno Diogo, médico obstetra e delegado sindical, insiste que a solução apresentada para garantir as urgências do Hospital São Francisco Xavier em agosto não garante a segurança dos doentes e lamenta que Rita Perez dê a entender que está tudo bem.
Para o clínico, os problemas não se resolvem equiparando um interno a um especialista: "Isso não é assim. Porque, se um interno é equivalente a um especialista, na verdade, vai haver menos profissionais, para além da diferenciação dos mesmos para recorrer a casos complicados que, muitas vezes, numa urgência grande como a do São Francisco Xavier, podem ocorrer simultaneamente".
Ouça as declarações do sindicalista Bruno Diogo à jornalista Rita Costa
Perante este cenário, Bruno Diogo antevê tempos difíceis, que se estenderão para lá do mês de agosto: "Provavelmente, vamos ter meses difíceis porque não só o Conselho de Administração não parece assumir o problema de forma cabal, como o Governo tarda em arranjar soluções."
Bruno Diogo defende que o problema das urgências não se resolve equiparando internos a especialistas. Ouça aqui as declarações do clínico à jornalista Rita Costa
Quanto à possibilidade de os médicos terem de interromper as férias para assegurarem o serviço de urgência, o profissional afirma que "não seria a primeira nem a última vez que, depois de uma solução extremista destas, o médico se veja obrigado a pedir rescisão."
Interromper férias? Bruno Diogo fala em "ameaça extremista"
Também Maria João Tiago, do Sindicato Independente dos Médicos, manifestou preocupação quanto à solução da administração hospitalar. À TSF, explicou que, a manter-se a situação atual, as urgências vão estar abertas, mas apenas para reencaminhar doentes.
Após a reunião de mais de duas horas com a administração, a sindicalista considerou ainda que o resultado "foi uma mão-cheia de nada" e denunciou a "pressão sobre os médicos, sob o risco de não lhes serem dadas férias". Maria João Tiago lamentou também que "não se faça nada para fixar médicos no Serviço Nacional de Saúde".
Esta manhã, os 19 responsáveis anunciaram a demissão em bloco da função de chefia a partir de agosto numa carta enviada ao Conselho de Administração e à Direção do Serviço de Urgência Geral CHLO, a que a TSF teve acesso. Os clínicos exigiam condições para ter a urgência aberta durante o próximo mês de agosto, recusando a possibilidade de trabalharem com recurso a apenas um médico e um interno.

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*Com Dora Pires e Rita Costa