Seca agrava-se cada vez mais no Algarve

Região algarvia tem as terras secas, ribeiras com água podre e barragens com menos água.

"Fatinha, anda cá." A cabra aproxima-se ao chamamento. O animal nasceu há cerca de um ano e é uma das cerca de 300 cabras de raça algarvia que Jorge Madeira tem no seu terreno em Giões, no concelho de Alcoutim. O pasto que existe no terreno à volta é quase nulo. Os animais têm que ser alimentados de outra forma. "Com palha e farinha", conta o criador de gado.

Nesta região cada vez mais árida do nordeste algarvio, o agricultor vive dos cabritos que vende e do leite produzido pelas cabras para confecionar os queijos. Mas sem chuva, que há muitos meses não cai na região, todo o processo é posto em causa. "A situação vai-se agravando cada vez mais", lamenta. "Não há comida para os animais e este ano nem semeei nada", acrescenta. "Este ano tirei menos 400-500 litros de leite por semana", garante. E sem leite, não há produção do conhecido queijo de cabra. "Os cabritos estão também ao preço de há 20 anos", garante.

Antes de chegar ao terreno do agricultor, na estrada para Alcoutim, fica situada a maior barragem desta zona do Algarve. A albufeira de Odeleite está a cerca de 30% da sua capacidade máxima, mas o volume útil ronda apenas os 17%, metade do que se verificava há um ano. Também a barragem do Beliche, que faz a ligação a Odeleite, está apenas com 24% da sua capacidade e um volume útil de 15%.

A água das ribeiras é quase inexistente e encontra-se deteriorada, incapaz de servir de bebedouro para os animais. Mesmo assim, todos os dias, Jorge Madeira leva as suas cabras pelos campos à procura de água e alimento. "Faço todos os dias 16 ou 17 quilómetros", assegura. Passa diariamente pela Ribeira do Vascão, um troço de água "onde bebia quando era puto". Agora, a ribeira tem água estagnada e podre.

Para piorar a situação que se verifica com a seca, a guerra fez disparar os preços das rações e das palhas para os animais. O presidente da da Associação de Criadores de Gado do Algarve (ASCAL) garante que todos os agricultores que possuem animais estão a desesperar com a situação. "Há um ano nós comprávamos as rações a sete euros e meio, oito euros. Hoje em dia não há nenhuma ração no mercado abaixo dos 14 euros, quase o dobro!", exclama Afonso Nascimento.

No mês de outubro, no Algarve, "só caíram umas pinguinhas" e, em Alcoutim, com os campos e as ribeiras secas, Jorge Madeira deixa a crítica: "Os nossos governantes só se lembram da seca quando não chove mesmo e a partir daí esquecem-se de tudo", lamenta.

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