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Faz esta sexta-feira 40 anos que Vizela travou uma batalha campal com a GNR, de que resultaram vários feridos, pela criação do concelho.
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A luta pela independência administrativa, que só terminou em 1998 com a aprovação do projeto-lei de criação do concelho, durou várias décadas, mas a revolução popular no dia 5 de agosto de 1982 foi um dos episódios mais marcantes.
Em protesto pelo chumbo parlamentar à proposta de criação do concelho, a população decidiu levantar a linha de comboio e, em resposta, o Governo enviou chaimites e um contingente da GNR para pôr fim ao bloqueio.
"Foi uma tentativa de nos amedrontar, mas ainda foi pior, o povo sentiu-se ofendido", recorda José Manuel Couto, um dos então jovens que integraram o denominado grupo "A Pesada", que encetou diversas ações de protesto.
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© Liliana Costa/TSF
Ao princípio da tarde de 5 de agosto de 1982, o aparato das forças de segurança tomou conta do largo em frente à estação de comboios onde, pela força, a GNR tentava assegurar as condições necessárias para a CP proceder à reposição da linha férrea.
Junto à antiga passagem de nível, a população montou uma barricada com "grades de cerveja" e improvisou cocktails molotov, que arremessou contra a GNR. "A bomba de gasolina já tinha fechado e então comecei a tirar a gasolina das motas que estavam ali estacionadas, não tínhamos outra alternativa", recorda José Manuel Couto, que tinha saído há poucos anos do serviço militar onde tinha a especialidade de "minas e armadilhas", portanto "sabia muito bem o que estava a fazer".
Ouça a Reportagem TSF em Vizela.
A GNR ripostou, lançou gás lacrimogéneo e abriu fogo "com bala real" contra os entrincheirados. "Foi aí que a GNR feriu gravemente um rapaz das Pereirinhas [Moreira de Cónegos, Guimarães], que levou um tiro no pescoço e ficou paralisado. Felizmente depois recuperou", acrescenta.
Instalado o impasse, a população e a GNR esperaram que a noite chegasse e já perto da meia-noite os populares encetaram o contra-ataque que pôs fim aos confrontos. "De um lado, atacámos com foguetes com garrafas de gasolina acopladas e do outro estava um grupo de caçadores aqui de Vizela com caçadeiras, com tiros de zagalotes, a fazer fogo. A GNR não contava com isso e não teve alternativa senão fugir a sete pés, uns em direção a Guimarães, outros em direção a Santo Tirso", descreve.
Foram precisos largos meses para voltar a pôr o comboio nos carris e longos anos para criar o concelho de Vizela, mas José Maria Ferreira, outro dos homens que deu corpo aos protestos, assegura que valeu a pena. "Eu voltava a fazer o mesmo. E é verificar o que Vizela era e o que Vizela é. Estamos muito orgulhosos pela luta que encetamos contra as forças políticas da altura, graças a um persistente que era Manuel da Costa Campelos [líder do Movimento para a Restauração do Concelho de Vizela] e ao grupo da Pesada", salienta.
Quarenta anos depois daquele foi o momento mais mediático da luta popular pela autonomia administrativa de Vizela, os acontecimentos do 5 de agosto de 1982 são evocados esta sexta-feira pela Câmara Municipal de Vizela com a abertura de uma exposição na Loja Interativa de Turismo, o descerramento de um monumento comemorativo no Largo da Estação e uma sessão solene comemorativa.