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A associação ambientalista ZERO pede aos dirigentes políticos um plano de gestão sustentável da água, perante falta de chuva que tem sido verificada nos meses de inverno, perante uma seca que vai ser "mais frequente".
O presidente da ZERO, Francisco Ferreira, alerta que a natureza cada vez mais escassa da água leva a que este não possa ser um recurso com "prioridade de comunicação e ação" apenas quando a seca é mais evidente e estamos "aflitos".
Francisco Ferreira quer "recomendações, medidas e ações" que possam ser monitorizadas.
"Precisamos de um programa que realmente tenha recomendações, medidas, ações e seja monitorizado", argumenta o ambientalista. A seca "vai ser mais frequente, mais violenta e mais prolongada", pelo que a gestão da água será "crucial".
Francisco Ferreira assinala que "70% da água está a ser utilizada na agricultura, que é também a atividade em que temos maior desperdício em comparação com a indústria e água para consumo humano", pelo que não é o momento de pensar em "novas culturas de regadios com centenas de milhares de hectares".
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Nos últimos 20 anos, Portugal tem estado "sempre abaixo da média" no que diz respeito a precipitação, algo que também se observou em "vários meses de 2021, que estiveram muito abaixo, como julho, agosto e setembro", quando o país registou apenas "25% da precipitação média normal".
Situação é "bastante preocupante" e são precisos apoios
Também a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) defende que a seca já é "bastante preocupante", sobretudo a Sul, notando que deviam ter sido acionadas medidas e que a situação pode refletir-se nos preços.
"Não é normal. Há zonas do país, principalmente a Sul, mas também a Norte, que estão em seca meteorológica. Esta é uma situação bastante preocupante. [...] Tivemos um outono bastante seco e agora as consequências começam a aparecer", afetando, nomeadamente, as culturas de outono e inverno, afirmou o dirigente da CNA Pedro Santos, em declarações à agência Lusa.
Segundo esta confederação, em algumas explorações já é necessário recorrer à rega, podendo a situação ficar "muito complicada", em função da evolução meteorológica.
Pedro Santos lamentou ainda que, até ao momento, o Ministério da Agricultura não esteja a acompanhar a situação, ressalvando que o Governo tem os poderes limitados, em vésperas de eleições.
Ainda assim, conforme vincou, a seca meteorológica, à semelhança das chuvas concentradas, devido às alterações climáticas, não é uma situação nova, por isso, as medidas já deveriam ter sido postas em prática.
"Em vez de termos medidas que automaticamente entram em vigor quando há estas situações, acabamos por ter sempre uma ação reativa. Quando o problema já existe é que vamos correr atrás do prejuízo, a ver o que se pode fazer", referiu.
Para a CNA, é ainda necessário por em marcha a comissão que acompanha estes fenómenos e fazer o levantamento dos prejuízos causados pela seca.
Face a este problema, os agricultores deparam-se com um "aumento de gastos diretos", que se junta à subida do preço dos fatores de produção, o que poderá também refletir-se nos preços para o consumidor final.
"Pode haver um aumento nos custos para os consumidores, mas não chega aos agricultores na proporção que deveria chegar. O maior problema é ter comprometidas as campanhas de produção", apontou.
Na terça-feira, a climatologista Vanda Cabrinha já tinha considerado que a situação de seca em Portugal, especialmente a Sul, começa a ser preocupando, salientando que ainda não chegou aos piores níveis dos últimos 20 anos para esta altura.
Em declarações à agência Lusa, a climatologista indicou, na altura, que a situação de seca "entre fraca e moderada" já se verificava no último trimestre de 2021 e que não há para já previsões de chuva significativa, pelo menos até ao fim de janeiro.
"É uma situação anormal para esta altura. Não está ao nível de uma seca como tivemos em 2005. Mas se entre o final de janeiro e fevereiro não houver precipitação, a situação poderá agravar-se imenso", referiu.